
Texto de Filomena Abreu
Quando, há 18 anos, se submeteu a uma cirurgia delicada à coluna, Fernanda Vagueiro sabia que corria o risco de não voltar a andar. Com medo, mas muito consciente do que isso implicaria, fez uma promessa a Deus: “Depois até posso sofrer, mas se continuar a andar tudo farei para ajudar os outros, principalmente as crianças”.
Com 67 anos, acabados de fazer, essa tem sido, de facto, a missão da sua vida. Durante a recuperação delineou a estratégia que paulatinamente iria colocar em marcha para angariar fundos. Começou por se dedicar a uma paixão antiga, a escrita. Desde a intervenção cirúrgica, já publicou oito livros – alguns de poesia, outros de histórias de vida – cujos custos de impressão pagou com as próprias economias. Faz artesanato, como cestos, chapéus e luvas, que vende aos amigos e à comunidade, no final das missas.
Na verdade, a luta de Fernanda tem sido travada em várias frentes. Vive e trabalha no Luxemburgo desde os 40 anos, altura em que, por ter perdido tudo, se viu obrigada a emigrar e a recomeçar a vida do zero. Foi nesse país que criou, em 2006, um grupo no Facebook para chamar a atenção de mais pessoas para a sua causa. “Mulheres com firmeza e amor pelas crianças” começou com 30 pessoas e, 12 anos depois, continua a crescer.
Uma vez por ano, a portuguesa, natural do lugar do Montouro, freguesia de Covões, concelho de Cantanhede, organiza uma festa feminina com o objetivo de recolher receitas para os mais necessitados. Depois, vem a Portugal e distribuiu o dinheiro por diversas instituições e crianças.
Nessa empreitada solidária, os donativos dirigidos a hospitais, creches ou corporações de bombeiros já ultrapassaram os 60 mil euros. Só cadeiras de rodas distribuiu perto de 20. Este ano, mais especificamente na semana passada, os 9 mil euros que angariou nos últimos meses foram reservados para uma equipa de jovens universitários do Porto concretizar o sonho de duas crianças paraplégicas de Coimbra, de 10 e 11 anos.
O dinheiro vai ainda pagar uma cadeira de rodas a um menino de oito anos, além de auxiliar monetariamente os Bombeiros de Águeda e de Oliveira do Bairro, para melhorar as ambulâncias. “Quando me vi com problemas percebi o significado da vida. E vi que tinha feito muito pouco pelos outros. Agora, ajudo como posso. E só vou parar quando morrer.” Modesta, recusa estar sozinha debaixo dos holofotes. “Tudo isto foi feito graças ao meu trabalho, mas mais graças a Deus, que tanto me tem ajudado.”