Conheça “o livro infantil mais triste do mundo”

Texto de Jorge Manuel Lopes

Não chega às 20 páginas e tem somente um par de protagonistas, mas é o suficiente para montar uma história muito intensa – sobretudo quando se conhecem os pormenores da sua criação. Chama-se “A Bubble”, foi editado o mês passado em língua inglesa e trata-se do derradeiro livro de Geneviève Castrée. Derradeiro e póstumo.

Natural do Quebeque, Castrée foi cartunista, ilustradora e guitarrista na cena indie norte-americana, com passagem por várias bandas, incluindo o projeto Mount Eerie, do seu marido, Phil Elverum. Quatro meses após o nascimento da filha do casal, foi diagnosticado a Geneviève cancro do pâncreas. A doença minou-a rapidamente, falecendo em julho de 2016, aos 35 anos.

Este é também o cenário narrativo em que se baseia “A Bubble”, o livro que Yevgeniya Traps, no site da revista americana The Paris Review, qualifica como “o livro infantil mais triste do mundo”. Nesta obra sumária, uma mãe vive no interior de uma bolha flutuante. Uma mãe doente, velada do exterior pela filha pequena. A bolha pode simbolizar proteção mas é também película fina e frágil que funciona como metáfora do mal que a corrói.

A mãe trabalha naquele espaço fechado e transparente à medida que a sua saúde vai piorando. Por vezes, a filha junta-se a ela lá em cima. Um dia, a bolha rebenta e mãe e filha partem estrada fora, felizes, de mãos dadas.

Geneviève Castrée já não teve vida que chegasse para terminar “A Bubble”. Quem cuidou dos últimos desenhos foi o também cartunista Anders Nilsen, a partir de instruções deixadas pela autora original. Uma enorme tristeza rematada com um punhado de páginas belas e fortes.