Texto de Reis Pinto
Contrariando as crenças, o motor de combustão interna dos carros é das peças de engenharia mais ineficientes que se conhecem. Da gasolina ou gasóleo com que os abastecemos apenas 18 a 20% é, efetivamente, transformada em energia motriz. Tudo o resto é desperdiçado, seja pela perda de calor, atrito com o solo, aerodinâmica ou fricção mecânica entre as peças.
Se contra isso nada se pode fazer, há um conjunto de técnicas de condução e de comportamentos que podem fazer baixar o consumo dos carros para valores que se julgavam impossíveis, estimando-se que a poupança possa atingir os 37% em veículos em boas condições mecânicas.
Esta procura pelo último quilómetro já deu origem a um movimento nos Estados Unidos da América, o Hyper Mileage (ou Hiper-Quilometragem, reconvertendo para o nosso sistema métrico), cujos seguidores mais fundamentalistas chegam a condicionar o comportamento de outros condutores.
Emagrecer
Além do bom estado da mecânica (pode mudar-se para velas de ignição de irídio, mais eficientes), a primeira tarefa dos “hipermilhistas” é tirar do carro tudo o que seja supérfluo e lhe acrescente peso. Quanto mais pesado estiver o veículo, mais potência terá de usar, ou seja, mais combustível queimará.
Por isso, fora com as barras de tejadilho e suportes de bicicleta que só se usam ao fim de semana (podem aumentar o consumo entre 14 a 20%).
Na bagageira só deve levar-se o que é legalmente obrigatório (como o triângulo de sinalização). E mesmo as marcas já colaboram nesta caça ao peso, eliminando o pneu sobresselente, que é substituído por um kit anti-furos (estima-se que um carro tenha um furo a cada 100 mil quilómetros).
Suavidade
Se há uma palavra que define a condução económica é a suavidade, mas outras se lhe podem juntar, como a mudança para um óleo de motor com maior índice de viscosidade ou a manutenção dos pneus com a pressão recomendada (há quem a aumente um pouco para diminuir o atrito).
Mas a regra de ouro dos “hipermilhistas” é raramente travar e tratar o pedal do acelerador com o carinho que é devido a uma flor de estufa.
Na verdade, este comportamento nada tem de absurdo. Trata-se de antecipar o que os outros condutores vão fazer e manter uma aceleração constante. Deve-se olhar sempre umas centenas de metros mais à frente e, mal se detetem os primeiros sinais de que o trânsito vai parar ou abrandar, tirar-se o pé do acelerador e deixar o carro deslizar pela inércia.
Ao aproximar-se de uma fila parada, não trave e diminua a velocidade com a caixa, privilegiando sempre a segurança. Na maior parte das situações o trânsito recomeça a circular antes mesmo de se parar.
Esta regra também se pode aplicar em curva. Não se deve nunca seguir a velocidade elevada – um conceito banido do vocabulário dos “hipermilhistas” – e, alguns metros antes, pé fora do acelerador, deixando que a inércia leve o carro a descrever a curva.
E aproveite todas as descidas para descansar o pé direito. Engrene a velocidade mais alta (nunca em ponto morto) e deixe a gravidade atuar.
O uso do ar condicionado não é consensual. O sistema rouba alguma potência ao motor mas, acima dos 70 km/h, andar com as janelas abertas cria um arrasto aerodinâmico ainda mais penalizador. Os mais fundamentalistas fecham as janelas, desligam o ar condicionado e refrescam-se amiúde com água fresca. No meio-termo, há quem advogue desligar o A/C mal o habitáculo esteja fresco e voltar a ligá-lo quando a temperatura interior sobe.