Camião roubado, droga na Porta 18 e “filha da p…” do resultado: 12 polémicas em torno de Luís Filipe Vieira

Foto: Pedro Rocha

Texto NM

Também Paulo Gonçalves, assessor jurídico da SAD do Benfica, está acusado de quase 60 crimes, por alegadamente ter aliciado dois funcionários judiciais para ter acesso a informação privilegiada sobre processos que decorrem na Justiça envolvendo as águias.

Na acusação, conhecida na terça-feira dia 4, o Ministério Público defendeu que o líder dos encarnados tinha conhecimento das alegadas manobras de Paulo Gonçalves, propondo mesmo a suspensão do Benfica das competições desportivas por um período entre seis meses e três anos.

À primeira acusação de corrupção ativa na história da SAD encarnada, Luís Filipe Vieira respondeu na quarta-feira 5 com uma declaração curta, sustentando não ver no despacho do Ministério Público “qualquer facto, mesmo que indiciário, que permita a imputação à Benfica SAD dos crimes aí descritos”. O discurso, parco, valeu-lhe críticas de diversos quadrantes, mesmo de notáveis do Benfica. Mas esta está longe de ser a primeira polémica em que Vieira se vê envolvido. A Notícias Magazine recorda-lhe 12 controvérsias em torno do líder do clube da Luz.

O camião roubado

Foto: Carlos Costa/ Global Imagens

A primeira grande polémica relacionada com Luís Filipe Vieira aconteceu bem antes de este chegar a presidente do Benfica. Em 1993, o dirigente foi condenado pelo Tribunal da Boa-Hora, em Lisboa, a uma pena de 20 meses de prisão pelo roubo de um camião em 1984.

No entanto, graças às leis da amnistia de 1986 e 1991, nunca cumpriu pena. A história veio a público em 2001 no semanário “O Independente”, curiosamente pela pena de Pedro Guerra, que mais tarde seria diretor de conteúdos da BTV.

A surpresa no programa “O Dia Seguinte”

Em 2004, debatia-se, no programa “O Dia Seguinte”, da SIC, a alegada inscrição irregular do então jogador do Benfica Ricardo Rocha, quando o inesperado aconteceu: Luís Filipe Vieira entrou em direto no estúdio e sentou-se ao lado do moderador Pedro Moutinho, para esclarecer o caso. O episódio deu que falar.

A barraca na Federação

Estava-se em junho de 2008, no rescaldo da sentença do processo Apito Final, que resultou na condenação do F. C. Porto, pela Comissão Disciplinar da Liga Portuguesa de Futebol, à perda de seis pontos, por corrupção tentada (a decisão acabou revogada, no ano passado).

Na sequência da punição “doméstica”, o Comité de Controlo e Disciplina da UEFA anunciou a suspensão dos dragões das competições europeias por um ano, mas o clube logo recorreu. Foi já com o caso na segunda instância (o Comité de Apelo da UEFA) que o presidente do Benfica foi à sede da Federação Portuguesa de Futebol fazer barulho. Pretendia uma declaração a confirmar que a decisão do processo Apito Final já tinha transitado em julgado, para enviar para a UEFA e pressionar o organismo a manter, na segunda instância, a decisão inicial, que permitiria ao Benfica participar na terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões.

Segundo um artigo da altura, publicado pelo JN, que divulgou o episódio em primeira mão, o líder encarnado, confrontado com a impossibilidade de obter a certidão requerida, “exaltou-se e afirmou que apenas sairia do local com a Polícia, ameaçando ainda chamar a comunicação social”. De nada valeu. Dias depois, o Comité de Apelo da UEFA anulou mesmo a decisão de afastar os dragões das provas europeias.

Ameaçado por sócios e escoltado pela polícia

Foto: Pedro Rocha

Um mês depois, nova polémica: no decorrer de uma Assembleia Geral do Benfica, Filipe Vieira acabou “apertado” por dezenas de jovens adeptos, que contestavam a falta de apoio da estrutura encarnada aos grupos organizados. Depois de um chorrilho de insultos e ameaças físicas, o dirigente das águias teve de ser escoltado pela polícia até ao parque de estacionamento do Estádio da Luz.

A cocaína e a “Porta 18”

Foto: Pedro Rocha

Em 2015, José Carriço, ex-diretor de Departamento de Apoio aos Jogadores do Benfica e antigo motorista de Vieira, é detido. O ex-funcionário das águias foi “apanhado” pela Polícia Judiciária, por transportar 9,5 quilogramas de cocaína, alegadamente num veículo do Benfica.

Segundo uma notícia publicada pelo JN nessa altura, a operação foi denominada Porta 18, porque seria esta a porta do estádio usada pelo funcionário do Benfica para fazer entrar cidadãos de nacionalidade colombiana que se iam encontrar consigo à Luz, a pretexto de reuniões.

Numa nota então publicada, o Benfica defendeu-se dizendo não ser responsável “pela prática de atos ilícitos dos seus ex ou atuais funcionários fora das suas competências profissionais”.

Os vouchers

Foto: Pedro Rocha

No mesmo ano, a polémica regressa à Luz. Desta vez, a controvérsia nasce de uma revelação feita por Bruno de Carvalho, então presidente do Sporting, no programa “Prolongamento”, da TVI 24: o Benfica dava a árbitros, delegados e observadores da Liga que se deslocavam à Luz o “kit Eusébio”, que consistia de uma camisola e quatro jantares no restaurante Museu da Cerveja.

Bruno de Carvalho falou em jantares a rondar os “140 mil euros anuais” e em prendas no valor de “um quarto de um milhão de euros por ano”. Na resposta, o clube da Luz confirmou as ofertas, mas defendeu que as refeições eram uma simples cortesia e que cada uma tinha um plafond limitado de 35 euros.

Filipe Vieira garantiu que o nome do clube estava limpo e que chegaria o dia em que se encontraria com o rival no local certo para resolver a situação. O caso acabou arquivado pela justiça desportiva. Na justiça civil, foi anexado à investigação do caso dos emails, que ainda decorre.

Dívidas de 400 milhões ao Novo Banco

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No início de 2016, são as empresas de Luís Filipe Vieira que arrastam o presidente do Benfica para mais uma polémica. O dirigente encarnado é apontado como um dos maiores devedores do BES, com dívidas superiores a 400 milhões de euros, que transitaram para o Novo Banco. Entretanto, em janeiro de 2018, Vieira chega a acordo com esta entidade bancária para a reestruturação da dívida.

Os emails

Foto: Filipe Amorim/Global Imagens

Em 2017, o clube da Luz volta a ser um alvo preferencial da mira dos rivais. Desta vez, os ataques chegam do norte – mais concretamente dos estúdios do Porto Canal. Em abril, Francisco J. Marques, diretor de comunicação do F. C. Porto, revela ter tido acesso a vários emails privados do Benfica e lança-se num périplo de revelações semanais que vão provocando uma polémica crescente.

À “cartilha”, enviada pelo Benfica aos comentadores afetos ao clube, segue-se a denúncia de um alegado esquema de corrupção montado pelo Benfica para condicionar os árbitros. Pedro Guerra, ainda diretor de conteúdos da BTV, e Paulo Gonçalves, assessor jurídico da SAD do Benfica, surgem como peças fulcrais do alegado esquema.

O caso chega ao Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP), com a PJ a fazer buscas tanto na Luz como nas residências de Luís Filipe Vieira, Paulo Gonçalves e Pedro Guerra, entre outros.

Paulo Gonçalves é constituído arguido, num caso que continua a ser investigado. Entre denúncias mais sérias, houve vários “fait-divers” a fazer furor na internet: um email do presidente do Benfica em que este terá escrito “o que passou-se?”, e a alegada contratação de um bruxo para ajudar nos resultados desportivos, são dois desses casos. Entretanto, em fevereiro deste ano, o Tribunal da Relação do Porto impediu Francisco J. Marques de continuar a divulgar emails.

Os palavrões na assembleia-geral

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À boleia dos emails, Luís Filipe Vieira vê-se envolvido noutra polémica. Numa assembleia-geral do clube, o dirigente referiu-se ao caso empregando termos menos próprios e o áudio não tardou a espalhar-se pela internet. “Em relação aos emails, desculpem falar à português, tanta m… e zero. Não temos medo de ninguém, nunca comprámos um filho da p… de um resultado”, pode ouvir-se na gravação.

Os bilhetes para Centeno e a isenção fiscal ao filho

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No início de 2018, novo rastilho de controvérsia, desta vez envolvendo também o Mário Centeno, ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo. Em causa, o pedido de Centeno ao clube da Luz para assistir a um Benfica-F. C. Porto.

O Ministério Público chega mesmo a realizar buscas no gabinete do ministro das Finanças, alegadamente à procura de eventuais pistas que relacionassem os bilhetes para o encontro com uma isenção de IMI concedida a uma empresa gerida pelo filho de Luís Filipe Vieira.

Dias depois, a Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa anuncia que o Ministério Público determinou o arquivamento do inquérito por inexistência de crime.

Operação Lex

Foto: Pedro Rocha/Global Imagens

Também no final de janeiro deste ano, a Procuradoria-Geral da República confirmou que o dirigente encarnado era arguido na Operação Lex. O principal arguido do caso é o juiz desembargador Rui Rangel, que está a ser investigado por crimes de tráfico de influência.

Luís Filipe Vieira é suspeito de ter pedido ao juiz que intercedesse num processo fiscal relacionado com uma das suas empresas. Como contrapartida, Rangel teria a promessa de um cargo na futura universidade do Benfica. “Nunca ofereci qualquer cargo no clube a troco de qualquer situação da minha vida pessoal e profissional. Quando sair do Benfica vou mais pobre, não vou mais rico”, garantiu na altura Vieira.

Caso Mala Ciao

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Já em junho, a PJ voltou à Luz, desta vez a propósito do caso Mala Ciao, que envolveu 24 buscas a quatro clubes: além do Benfica, Vitória de Setúbal, Paços de Ferreira e Desportivo das Aves também foram visados. Em causa, uma alegada situação de corrupção desportiva, com o Benfica a ser suspeito de ter subornado atletas de outros clubes para vencerem o F. C. Porto. “Estas buscas resultam de mais uma denúncia anónima com origem no Porto e a ser investigada pelo DIAP do Porto. São factos falsos que investigam contratos do Benfica a jogadores”, invocou Vieira. O caso continua em investigação.