As lentes de contacto estão a destruir o meio ambiente

Ponto final em mais um dia de trabalho. Chega a casa e só pensa em ficar confortável. Põe-se à vontade, descalça-se, por vezes veste algo mais informal. Regra geral, para quem usa lentes de contacto descartáveis, o ritual também inclui tirá-las, para pôr os óculos. E deita-as para onde? Lavatório? Sanita? Balde do lixo? Se costuma optar por uma das duas primeiras opções, saiba que pode estar a causar danos irreversíveis ao meio ambiente.

“Mas como? São tão pequenas!” A estupefação é natural. Mas, se ainda duvida que, ao deitar as lentes de contacto para a sanita (ou para o lavatório), está a dar ao ambiente um presente envenenado, conheça as conclusões de um estudo da Arizona State University, divulgado pela imprensa norte-americana neste fim de semana.

Ao ser lançado na rede sanitária, o plástico das lentes de contacto segue direitinho para as estações de tratamento de água, acabando por se infiltrar no lodo dos esgotos e por se espalhar nos solos.

De acordo com o estudo da Arizona State University, 15 a 20% dos americanos deita as lentes para os esgotos, seja através da pia ou da sanita.

O problema agrava-se face ao facto de haver cada vez mais gente a usar lentes de contacto – e cada vez mais gente a trocar as lentes mensais pelas diárias, por serem mais confortáveis. Ou seja, em vez de se deitarem as lentes pela sanita uma vez por mês, o gesto passa a repetir-se diariamente.

Só nos Estados Unidos, estima-se que haja 45 milhões de pessoas a usar lentes de contacto. Nos países europeus, a percentagem varia entre os 5% e os 15% da população de cada país.

Mas voltando aos “States”, onde a matemática anual é impressionante. O estudo aponta para que, num ano, haja, no país, 14 mil milhões de lentes de contacto a serem deitadas fora, o que se traduz em quase mais 200 mil quilos de plástico na rede sanitária, a cada ano. Destes, aponta o estudo, perto de 13 mil quilos de plástico acabam disseminados pelos terrenos.

“Resistem durante o tratamento das águas e tornam-se parte do lado do esgotos. Sabemos que tudo o que está nos esgotos pode voltar, através das chuvas, às águas superficiais. E daí ir para o oceano. Há fortes probabilidades de que estas lentes de contacto façam uma grande jornada”, explicou, à BBC, Rolf Halden, do Centro de Engenharia de Saúde Ambiental do Arizona.

Os investigadores temem ainda que estes poluentes tóxicos se possam acumular em organismos vulneráveis, como as minhocas e os pássaros. “Se as minhocas e os pássaros se alimentam do solo, então acabamos por ter uma rota semelhante àquela que o plástico faz nos mares. É ingerido por animais, que fazem parte da cadeia humana alimentar”, acrescenta Rolf Halden.

Por isso, os especialistas recomendam que, sempre que possível, as lentes de contacto sejam recicladas – há já fabricantes que permitem que, depois de usadas, sejam enviadas, para posterior reciclagem. Quando tal não for possível, devem ser despejadas junto do restante lixo sólido, não reciclável. Nunca no lavatório. Nem na sanita.