Texto de Ana Sofia Reis
“Querem saber como é estar morto enquanto ainda se está vivo? Percam um filho. É doloroso. O coração parte-se a cada segundo e fica-se sem saber o que fazer. A vida deixa de ser justa.” É assim que Leia Pierce descreve como está a lidar com o suicídio do filho, Jamel Myles, de nove anos. A criança matou-se, segundo a mãe, porque sofria de bullying homofóbico na escola que frequentava em Denver, nos Estados Unidos da América.
James tinha contado a Leia que era gay pouco tempo antes da tragédia. O menino disse que não se importava de expor a situação a outras pessoas, uma vez que tinha “orgulho” na sua orientação sexual. “Tenho a certeza que ele contou a alguém na escola e isso acabou por se espalhar”, acrescenta Leia.
A Denver Public Schools (DPS), órgão responsável pelos estabelecimentos de ensino estatais da cidade, refere que existem psicólogos disponíveis para estudantes que vivam estas situações de crise. Enviou, também, cartas que informavam sobre esse serviço de apoio para as famílias dos alunos que frequentam a Escola Primária Joe Shoemaker, onde Jamel Myles estudava. “Foi uma perda inesperada para a comunidade escolar”, dizia a missiva, alertando também os pais para sinais de stresse que as crianças pudessem transparecer.
“A escola disse-me que vai trabalhar no sentido de prevenir suicídios, mas não podem fazer isso e esquecerem-se de combater o bullying. Tenho a certeza de que sabiam que ele sofria de bullying”, relata a mãe de Jamel.
“O distrito está profundamente comprometido em garantir que todos os membros da comunidade escolar sejam tratados com dignidade e respeito, independentemente da orientação sexual, identidade de género ou status tansgénero”, disse Will Jones, um porta-voz da DPS.
Leia Pierce sente-se culpada pela morte do filho, por não ter reparado que ele sofria este tipo de intimidação: “Como mãe, deveria ter-me apercebido da dor por que ele estava a passar e não o fiz. Sinto-me responsável por não ter visto a dor nos olhos do meu bebé.”
Jamel era o mais novo de três irmãos e foi encontrado morto pela mãe em casa a 23 de agosto. Tinha começado o quarto ano há poucos dias.
“O meu filho e a minha filha mais velha eram muito próximos. Ele quando voltou da escola contou à irmã que as outras crianças tinham-lhe dito para se matar”, revelou Leia, acrescentando que “foi triste ele ter pensado que essa era a única opção”.
A mãe do menino quer passar uma mensagem para outras crianças que se identifiquem como gays: “Elas são lindas e especiais, não há nada de errado no facto de serem diferentes e por isso devem-se sentir amadas. Sejam gays ou não, deveriam sentir que, onde quer que vão, são tratadas de forma igual.
“Ele queria mudar o mundo e dar amor às pessoas. Agora não pode mais fazê-lo, mas eu posso espalhar as palavras dele porque todos precisam de ouvir isto. Uma alma tão gentil abandonou-nos por algo muito cruel e quero que o meu filho saiba que conseguiu deixar o mundo melhor por ser quem era.” Leia não quer que ninguém passe pela dor que enfrenta neste momento.