
Estimado leitor, hoje tenho comigo o CEO da Ryanair, Michael O’Leary. Por acaso, eu acho que Ryanair dava um excelente nome para aqueles produtos que servem para limpar o nariz quando estamos constipados. Olá, Michael…
Desculpe lá, mas isto não são condições para receber um convidado para uma entrevista. Estou sentado num bidão de metal virado ao contrário!
Pois, compreendo. Mas eu também já viajei uma vez na Ryanair e senti o que senhor está a sentir. É chato mas estou em contenção de custos.
Hum… está bem. Sou muito sensível a esse tipo de argumentos.

O seu apelido, O’Leary, é escocês? É que os escoceses são conhecidos por serem avarentos, pode ser um estereótipo, mas podia justificar muita coisa.
Não, eu sou irlandês, e não sou avarento! Sou só um CEO sem escrúpulos de uma grande multinacional.
Isso é o que nós em Portugal chamamos um pleonasmo. Eu sou muito direto e tenho de dizer que fiquei chocado pela forma como o senhor reagiu à greve dos tripulantes de cabine.
Ui. Já vi que o senhor é um bandalho, daqueles que defende as greves e os direitos dos trabalhadores.
Sou, sim. Mas, neste caso, eu apoio a greve porque sempre são menos turistas que vêm para Portugal e, como moro em Lisboa, já não aguento turistas.
Eu acho que as greves são uma praga, tirando as greves da fome porque aí poupa-se em alimentação. Estou farto de pessoas que defendem os diretos dos trabalhadores! Malditos comunistas! Eu costumo dizer a essa gente que temos voos para a Venezuela a 35 euros.
Mas o direito à greve é uma das grandes conquistas da democracia.
Era só o que faltava, então mais vale suspender a democracia durante seis meses e… cof, cof, cof. Desculpe. Estou com a garganta um bocado seca. Por acaso, não me podia arranjar qualquer coisa para beber?
Claro, tem aqui este copo de água da torneira pela módica quantia de 15 euros.
Mas isso é roubo!
Pois é, mas isto é uma entrevista low-cost e tudo o que não está incluído é considerado um luxo.