O ano da Desfolhada

Texto de Ana Patrícia Cardoso | Fotografia de Arquivo DN

O Festival RTP da Canção comemorava apenas seis anos (a primeira edição ocorreu em 1964) mas já alcançara o estatuto de acontecimento nacional. Naquele 25 de fevereiro de 1969, a noite corria sem percalços ou grande entusiasmo no Teatro São Luiz, em Lisboa.

«No que respeita a canções, foi o mesmo de sempre», lia‑se no Diário de Notícias no dia seguinte. «Uma ou outra melodia que se retém facilmente e, no resto, uma confrangedora falta de inspiração ou lá o que quiserem.» Até que chegou a vez da repetente Simone (já tinha interpretado Sol de Inverno em 1965). «Cantava cheia de ritmo e intencionalidade e tudo isto ainda valorizado pela voz e o saber cantar», gabava‑lhe o diário. Arrecadou os votos do júri e aplausos de pé do público.

A 29 de março, na final do Festival Eurovisão, em Madrid, Desfolhada ficou em 15º lugar, penúltimo da competição.

Curiosamente, Simone não tinha sido a primeira opção para a canção escrita por Ary dos Santos, com música de Nuno Nazareth Fernandes. «Fui a quarta escolha!», contou a cantora numa entrevista à Notícias Magazine em agosto de 2017.

«O Zé Carlos [Ary dos Santos] escolheu a Madalena Iglésias, que não quis cantar a frase “quem faz um filho fá‑lo por gosto”. Depois veio ter comigo. “Olá, tenho aqui uma cantiga.” (…) Eu olhei para o texto e disse que cantava. Só por causa daquele verso? Então eu fiz dois filhos e fi-los por gosto e com quem quis. Mas isso foi uma complicação. Estive para ser presa.» Não foi.

A 29 de março, na final do Festival Eurovisão, em Madrid, Desfolhada ficou em 15º lugar, penúltimo da competição. Ainda assim, milhares de fãs esperaram ‑na no regresso a Lisboa. Em 1970, Portugal não participou da competição em protesto pelo resultado do ano anterior.