André Silva: «Ajudamos mais os outros ouvindo‑os verdadeiramente do que dando opiniões»

Texto de Alexandra Pedro | Fotografia de Leonardo Negrão/Global Imagens

Antes de ter voz pública, André Silva, de 42 anos, habituou‑se a ouvir os restantes deputados com assento parlamentar. «Ouvir seriamente», como aprendeu quando trabalhava na linha SOS Estudante, para a qual se voluntariou quando frequentava a sua licenciatura em Engenharia Civil, em Coimbra. Mais tarde viria a ser vice ‑presidente da mesma e coordenador de voluntários.

«Fiz este atendimento anónimo e confidencial entre 1998 e 2003 [entre os seus 23 e 27 anos]. Foi um momento muito importante na minha formação pessoal porque desenvolvi o que se chama de escuta empática», conta o deputado, que considera que esta é uma caraterística rara nos dias de hoje.

«Tive contacto com situações de morte iminente e de profundo sofrimento», revela.

«Vivemos num mundo em que ninguém ouve, ninguém se senta a ouvir e, portanto, há muitas pessoas que mesmo junto dos seus familiares e amigos continuam muito sozinhas.»

«Para mim foi uma enorme lição de vida colocar‑me no lugar do outro, conseguir transcender‑me, ir além dos meus preconceitos, e realmente ajudar. Aprendi que muito mais importante do que darmos as nossas opiniões ou conselhos é, de facto, ouvir a pessoa. Dizer‑lhe: ‘estou aqui para ti’.»

Para o engenheiro civil esta foi uma experiência que lhe deu «uma perspetiva completamente diferente em relação à morte e à vida». «Tive contacto com situações de morte iminente e de profundo sofrimento», revela.

O trabalho na linha de atendimento permiti‑lhe também relativizar os seus próprios problemas, que considerou muitas vezes «corriqueiros» e fez de André um homem com a «capacidade genuína de saber escutar os outros».

Uma vida em números

2017 – HISTÓRIA
Conquista para o PAN: novo estatuto jurídico dos animais, que os reconhece como «seres vivos dotados de sensibilidade», deixando de ser «coisas» perante a lei.

FV‑44‑17 – TRANSPORTE
Matrícula do segundo carro dos seus pais, o primeiro que se lembra. Um Ford Escort, amarelo, no qual fazia as «longas e demoradas viagens» para a aldeia dos seus avós, em Vilar de Besteiros, Tondela.

XVII – SÉCULO
Este é um século pelo qual tem grande estima, não só pelas «questões políticas, como a restauração da independência de Portugal», mas também «pela arte, especialmente a arte maneirista, com grande influência da Itália e da Holanda».

2006 – DESCOBERTA
Ano em que fez uma viagem «marcante» para a Índia e realizou «um sonho antigo». O choque cultural, a forma como se vive a religião, as cores e o cheiro que por lá encontrou tornaram esta aventura inesquecível para o deputado.

5/10 – LEGISLATIVAS
Apesar de as eleições se terem realizado a 4 de outubro de 2015, devido a um problema no resultado em São Domingos de Benfica, André só ficou a saber que tinha conquistado assento na Assembleia da República às 00h42 do dia 5.