Ana Salazar, a pioneira

Texto de Ana Patrícia Cardoso | Fotografia de Arquivo DN

A 18 de abril de 1991, o Teatro São Luiz estava em alvoroço momentos antes de começar a edição de estreia da Moda Lisboa. Na confusão dos bastidores, o Diário de Notícias conseguiu falar «cinco minutos» com Ana Salazar, a designer responsável pelo primeiro desfile.

Nessa altura, já era um nome conhecido e sinónimo de sucesso. Ainda assim, mantinha a modéstia. «É só o resultado de muito trabalho e muita perseverança. Dei vários saltos no escuro. Resultaram mas, no início, lancei‑me nisto sozinha sem qualquer apoio.»

O DN chamou‑lhe «experiência ‑piloto» nesse ano. Duraria até hoje, 27 anos depois.

Adorada em Paris (onde abriu uma loja em 1985) e com postos de venda do Japão aos Estados Unidos (fechou a loja no Koweit mesmo antes da Guerra do Golfo), Ana decidia todos os pormenores, da roupa aos acessórios, para que o desfile fosse surpreendente.

Copiar tendências não era coisa que lhe agradasse. «A grande indústria segue tendências internacionais, cingindo‑se a elas. Eu parto de um dado qualquer do quotidiano que me inspira no desenho a imprimir no meu vestuário», disse ao DN.

Num desfile coreografado por Paulo Gomes, a inspiração foi o filme Henry and June, baseado na obra de Anaïs Nin, Henry, June and Me, com Maria de Medeiros no papel principal. «Na verdade, anda tudo à roda do meio urbano, de uma sensualidade permanente», em que se destaca «uma simplicidade funcional e respeito pela lógica dos materiais».

Ao longo de três dias, onze estilistas, entre os quais Nuno Gama, Luís Buchinho ou José António Tenente, mostraram as suas coleções perante uma plateia de quarenta jornalistas de todos os cantos do mundo. O DN chamou‑lhe «experiência ‑piloto» nesse ano. Duraria até hoje, 27 anos depois. Às 20h00, após a chegada de Maria Barroso, estava tudo a postos para começar o desfile. E fez‑se história.

DOCUMENTÁRIO HISTÓRICO
Em outubro deste ano será lançado um documentário que narra a história da ModaLisboa desde o primeiro desfile de Ana Salazar até hoje. Com realização de Márcio Simões e fotografia de Leonor Teles, vencedora, em 2016, de um Urso de Ouro em Berlim.