Afinal, o sexo melhora ou piora a performance desportiva?

Texto Sara Dias Oliveira

Sexo na véspera ou horas antes de uma prova de alta competição? Sim ou não? Há quem defenda que o sexo amolece as energias do corpo, e que isso se nota na prática desportiva, e há quem afirme que a atividade sexual pode ser benéfica para o rendimento desportivo. Haja uma boa noite de descanso e nada de loucuras com álcool à mistura. Isso é que não.

Se há treinadores que torcem o nariz a uma noite de sexo antes de uma prova, há outros que não proíbem o contacto sexual porque acreditam que o prazer, os orgasmos, as hormonas que se libertam, a adrenalina que se solta, não prejudicam a performance desportiva. Antes pelo contrário. Liberta-se o stress, os neurónios relaxam, a autoestima sobe e a autoconfiança fica mais forte.

Embora não existam consensos à volta do assunto, a ideia de que o sexo pode estragar uma boa performance na alta competição desportiva começa a esbater-se. Afinal o sexo relaxa, diminui a ansiedade, e aumenta a sensação de conforto. E até há quem defenda que a raiz da questão não está tanto no sexo propriamente dito, mas sobretudo nas circunstâncias que rodeiam as práticas sexuais. Se tira ou não horas de sono, se há álcool e bebidas à mistura, se o descanso sofre com isso.

Os estágios que se faziam antigamente, dias antes das competições, além da preparação física dos atletas, tinham como objetivo proteger os desportistas dos excessos alimentares e dos excessos sexuais.

Domingos Gomes, especialista em medicina desportiva, médico do FC Porto durante mais de 20 anos, diz à NM que não há estatísticas ou um padrão que permitam responder sim ou não quanto à correlação positiva ou negativa entre sexo e desporto. «Não há um padrão de pessoa que diga que, tendo tido relações sexuais antes de uma competição, melhorou, piorou ou manteve na mesma o seu desempenho desportivo», sublinha.

Depende de cada um, das características do atleta. É a individualidade comportamental que entra em jogo. «Em termos de funcionamento fisiológico, a abordagem é diferente de indivíduo para indivíduo.» Domingos Gomes já ouviu histórias de atletas que conseguiram medalhas ou conquistas importantes e que tiveram relações sexuais na véspera das provas, como o contrário, ou seja, quem tenha tido sexo horas antes de uma competição e não tenha tido uma performance digna de registo.

«No âmbito de medicina desportiva, os estudos, as opiniões, as abordagens desta matéria, não são esclarecedores», refere o médico. «Cada um tem o seu comportamento que, a partir de certa altura, é muito diferente», acrescenta.

Nas Olimpíadas do Rio, em 2016, foram distribuídos 450 mil preservativos na vila olímpica, onde estavam 10 500 atletas. Uma média de 42 preservativos por atleta.

A propósito deste assunto, o jornal espanhol El Mundo cita Emmanuele Jannini, membro do comité científico da Sociedade Europeia de Medicina Sexual e professor de Endocrinologia do departamento de Medicina Experimental da Universidade de L’Aquila, Itália. «Nas relações sexuais, o cérebro estimula produção de testosterona, o que seria útil para certos jogadores. A testosterona é um anabolizante natural. Se faz sexo, isso aumenta o seu desempenho», diz o especialista ao diário espanhol.

O El Mundo recorda, por outro lado, que Tommy Boone, professor de fisiologia do exercício e autor de Sexo Antes das Competições Atléticas: Mito ou Realidade, não encontrou diferenças significativas entre os atletas que tiveram sexo 12 horas antes de um teste de resistência e aqueles que se abstiveram de relações sexuais.