A Madonna portuguesa

Texto de Ricardo J. Rodrigues | Fotografia de Arquivo DN

«Não Sejas Mau para Mim deu vitória a uma estreante numa noite sem entusiasmo.» Há 32 anos, o Diário de Notícias trazia à primeira página a fotografia de Dora, uma rapariga de 19 anos que ninguém conhecia mas acabara de vencer o maior evento televisivo português. E fê-lo precisamente no ano em que o Festival da Canção teve a sua primeira grande crise: 1986.

«Pouco há a dizer sobre a forma como correu o festival, já que a ausência de público e de um júri nacional lhe retiraram a componente espetáculo, que fazia que fosse o grande acontecimento da música ligeira nacional», dizia o DN.

Nesse ano, o evento decorreu em estúdio, sem público a assistir. As canções foram gravadas nos centros de produção de Lisboa, Porto, Açores e Madeira. E, em vez dos habituais votos em todos os distritos, foram funcionários da estação pública a tomarem a cadeira de jurados. Uma desilusão para toda a imprensa.

O aparecimento de Dora acabou por trazer a energia que faltava, com a composição assinada por Guilherme Inês, Zé da Ponte e Luís Fernandes, antigos Salada de Frutas. Dora apanhou toda a gente de surpresa em Portugal. Dois anos depois de Não Sejas Mau para Mim, voltaria a ser a escolhida para representar Portugal na Eurovisão, com Voltarei.

CLASSIFICAÇÃO
Não Sejas Mau para Mim seria a última canção a subir ao palco da Eurovisão desse ano, em Bergen, na Noruega. Terminaria na 14.ª posição, entre 20 concorrentes.