Afinal a carne vermelha faz assim tanto mal?

Texto de Alexandra Pedro | Fotografia ShutterStock

É cancerígena? Tem propriedades prejudiciais para a saúde? Aumenta o peso? As dúvidas sobre a carne vermelha parecem aumentar à medida que mais estudos vão sendo feitos.

Em 2015, por exemplo, a Agência Internacional para a Investigação do Cancro, da Organização Mundial de Saúde, alertou para os riscos cancerígenos da carne vermelha. A nutricionista Cláudia Penedo esclarece, em entrevista à Notícias Magazine, os mitos e verdades deste alimento.

Que malefícios tem a carne vermelha?

Em 2015, a Agência Internacional para a Investigação sobre o Cancro, da Organização Mundial de Saúde (OMS), disse que a carne vermelha é «provavelmente» cancerígena para o ser humano. Além disso, apresenta também um teor elevado de gordura saturada, que aumenta o colesterol LDL – chamado «mau colesterol» -, responsável a longo prazo pela deposição de gordura nas artérias, que consequentemente aumenta o risco de doenças cardiovasculares.

A carne vermelha é essencial para o ser humano?

A carne continua a ser considerada importante para a dieta humana e para uma alimentação diversificada uma vez que apresenta um elevado valor proteico, vitamínico e mineral. Ao observar a roda dos alimentos, no guia que transmite as orientações para uma alimentação saudável, identificamos logo a presença da carne vermelha num dos sete grupos representados.

Nas dietas mais rigorosas para perda de peso é aconselhado o abandono da carne vermelha?

O aumento do peso/gordura corporal não se deve exclusivamente à ingestão de um determinado alimento. O recomendado é reduzir, por precaução no que à saúde diz respeito, o consumo de carne vermelha, como vaca, porco, cabrito, borrego, no máximo a 500g por semana. No entanto, ainda não está totalmente definida qual a quantidade que tem riscos para a saúde. Se apreciar o sabor da carne vermelha não deve prescindir de a comer, deve apenas optar por fazê-lo com moderação.

Há cada vez mais restaurantes de carne maturada. É prejudicial?

O processo de maturação da carne permite melhorar as características organoléticas – relacionadas com o estado do alimento – e sensoriais, como o sabor, a suculência e, sobretudo, a maciez. O processo deve-se à degradação das proteínas miofibrilares da carne, através da ação de enzimas endógenas, presentes no próprio músculo. Durante o processo de maturação ocorre a perda de água e de proteínas presentes no alimento mas o teor de gordura saturada não é significativamente alterado, sendo que se mantêm os possíveis riscos associados à sua ingestão.

O paciente deve escolher partes específicas da carne para conseguir ter uma alimentação mais equilibrada?

Sim, o paciente deve não só optar por uma ingestão moderada como também pela escolha de partes do animal com menor teor de gordura.

Há, de facto, indícios que possa ser prejudicial para a saúde comer apenas carne e legumes nas refeições principais?

Não existe evidência científica de que possa ser prejudicial para a saúde. No entanto, pelo facto de restringir os alimentos ricos em hidratos de carbono, esta dieta pode, numa fase inicial, induzir a estados de fadiga, falta de vitalidade e alterações de humor.

Como combater esses sintomas?

Esses sintomas são normalmente temporários e podem não ocorrer por carências nutricionais mas sim pela restrição. Mas existem outras fontes alimentares equivalentes que devem ser introduzidas na refeição principal, como o ovo, o peixe e o marisco.

Quais os conselhos que dá para quem come demasiada carne vermelha.

O ideal será limitar a ingestão a 500g por semana. No entanto, uma estratégia para reduzir os prováveis riscos para a saúde associados ao consumo de carne vermelha passa por ingerir diariamente alimentos protetores, como produtos hortícolas e a fruta. Isto porque apresentam um alto teor de vitaminas, minerais e fibras, nutrientes com potencial para reduzir o risco de doença cardiovascular e de alguns tipos de cancro.

Como deve ser feita uma alimentação equilibrada?

Uma alimentação equilibrada deve basear-se nos princípios da alimentação mediterrânica tradicional. Que é, essencialmente, caracterizada pelo predomínio dos produtos de origem vegetal, como a fruta, os produtos hortícolas, os cereais, os frutos oleaginosos e as leguminosas e ainda pelo consumo de azeite como principal fonte de gordura. Os laticínios também estão presentes neste padrão alimentar mas de forma moderada.

Deve também privilegiar-se o peixe, carnes brancas (frango, peru e coelho) e ovos em relação à carne vermelha, que deve ter um consumo baixo em frequência e quantidade.

E em relação a enchidos e açúcar?

O consumo de produtos de charcutaria, bem como de açúcar, deve ser limitado.

E como se devem confeccionar?

Para uma alimentação equilibrada é ainda fundamental não esquecer o tipo de confeção utilizada e privilegiar a que utilize menos gordura, como cozidos, grelhados, estufados, caldeiradas, jardineiras. Deve também reduzir o teor de sal, que pode ser substituído por especiarias, ervas aromáticas e/ou sumo de limão sem descurar o sabor dos alimentos.