Um casal às direitas

Ela é membro da Comissão Executiva do CDS, ele é deputado do PSD e vereador da Câmara de Cascais. Teresa Anjinho e Ricardo Baptista Leite são de partidos diferentes mas estão juntos desde 2014 e garantem que são responsáveis pela «melhor coisa que a coligação produziu»: João Maria, de 8 meses.

Passaram dias, meses, anos sentados lado a lado no plenário da Assembleia da República. Ele na bancada do PSD, ela na do CDS. A separá-los só o pequeno corredor de escadas que divide as bancadas dos dois partidos. Teresa Anjinho, 42 anos, ocupava sempre, na quarta fila, o lugar da ponta dos bancos reservados ao CDS. Ricardo Baptista Leite, 36, ficava instalado na ponta da bancada do PSD. Foi assim que se conheceram em 2011, quando se estrearam como deputados. Tornaram-se colegas, e depois, quando participaram no Grupo Parlamentar Português sobre População e Desenvolvimento, ficaram amigos.

Mais tarde apaixonaram-se e em 2014 foram viver juntos. Sempre discretos na relação, acreditam que muitos dos que circulam pelos corredores do Parlamento e dos partidos ainda «nem devem saber». É a primeira vez que se expõem. «Muitas pessoas só perceberam quando eu fiquei grávida» diz Teresa. Juntos têm um filho, João Maria, de 8 meses.

Em 2015, Teresa saiu do Parlamento e foi para o governo, como secretária de Estado da Justiça. Hoje faz parte da Comissão Executiva do CDS, com Assunção Cristas. Ele mantém-se como deputado, cargo que acumula com o de vereador da Câmara Municipal de Cascais.

«Na nossa vida há muita política», admite Ricardo À noite em casa, ou de manhã ao pequeno-almoço, quando veem as notícias do dia, costumam debater ideias. «E isso até nos prepara melhor para os assuntos», diz Teresa, revelando que há temas que provocam maior discussão, como as restrições ao tabaco e ao álcool. «Eu acho que o Estado não deve interferir nos hábitos das pessoas. Ele pensa diferente.»

No dia-a-dia, a política está constantemente presente. Gostam de ver séries de política, no Netflix, como Tudo Pela Casa Branca, e até têm uma alcunha apropriada para o filho: «É o nosso PAF; o melhor que a coligação produziu», diz o deputado, divertido, referindo-se ao facto de o filho resultar de uma união que nasceu na época da coligação Portugal à Frente, que juntou PSD e CDS. Aliás, por terem estado no Parlamento nos anos em que existia um acordo entre os dois partidos, nunca se enfrentaram num duelo parlamentar.

Nessa altura, conseguiam ir a jantares e outros eventos juntos. «Agora vamos sozinhos. Quando há um jantar do PSD eu não o acompanho e vice-versa», diz Teresa, dizendo, a brincar, que há dias Ricardo a tentou «enganar» para a levar a um convívio do PSD. «Não sabia bem o que era», justifica Ricardo, retribuindo a brincadeira.

Têm ambos sentido de humor e orgulho um no outro. O social-democrata conta que desde o início ficou rendido à «forma preparada e genuína» como a centrista expunha as ideias. Ela foi cativada pela maneira como Ricardo encarava o trabalho: «Um dia fomos, cada um pelo seu partido, a uma conferência. Quando chegou a vez de ele falar, em vez de fazer o que todos fazem, mostrou um vídeo em que uma boneca explicava a importância das questões de saúde. Prendeu a audiência e eu senti-me pequenina por ele ter uma apresentação melhor do que a minha.»

Gostam de correr juntos, partilham um golden retriver que batizaram de Pax e sentem que têm ambos espírito de missão. «Sei que faremos sempre algo relacionado com cidadania», diz o social-democrata. O facto de estarem juntos já os fez mudar. Teresa, jurista de profissão, ajuda Ricardo a ter uma visão mais jurídica das questões. «É uma constituição doméstica», descreve o deputado. Além disso, tem-no sensibilizado para certos temas. «Sou uma feminista encartada e tenho endoutrinado o Ricardo.» Ele, médico de formação, por sua vez, tem contribuído para que Teresa perceba melhor o Serviço Nacional de Saúde.

Em casa cada um tem o seu escritório. «O meu está cheio de coisas do CDS, como bandeirinhas», diz Teresa. «O meu tem objetos do PSD e até um busto do Sá Carneiro.» A próxima grande prova do casamento «serão as eleições autárquicas», diz Ricardo a rir-se, adiantando que há um pacto entre o casal: Teresa não se candidata a Cascais, o círculo eleitoral dele; e Ricardo não vai a votos em Coimbra, o círculo dela. E se algum se candidatasse a presidente de câmara? Teresa dispara. «Votava nele sem dúvida. A política tem limites.»