Sexo, vinho e criptomoeda: os negócios de um russo em Portugal

Notícias Magazine

Texto de Marcelo Teixeira | Fotografia de Nuno Pinto Fernandes/Global Imagens

É numa casa que já foi moinho, no alto do Turcifal, em Torres Vedras, que o russo de 39 anos planeia criar um vinho diferente de todos os que conhecemos: «será o primeiro vinho do mundo a ser financiado através de criptomoeda. Vai ser um produto diferente, sofisticado, inspirado na produção vinícola de todo o território português», diz Roman Sidorenko.

O russo que cresceu na Crimeia, se formou em Ciências Computacionais na universidade de Sevastopol, se dedicou às tecnologias da informação, viveu e trabalhou em Silicon Valley e criou uma app de encontros sexuais chamada Pure, assentou arraiais em Portugal depois de ter conseguido, com essa aplicação, o terceiro lugar no Lisbon Challenge (programa acelerador de aplicações da capital), posição que lhe valeu 30 anos de escritório gratuito no Campo Pequeno.

Hoje, tem três hectares e meio de terreno perto de Torres Vedras, onde planeia, através de criptomoeda, criar a sua marca de vinho, o Lyssa Estate. O empreendedor explica como pretende fazer funcionar o negócio: «vamos ter alojamento, no máximo cinco guesthouses, e o objetivo é oferecer aos clientes uma experiência única. Poderão provar vinhos de todo o país, e claro, o Lyssa Estate.».

A casa que Roman Sidorenko planeia transformar numa guesthouse vinícola é uma das habitações a maior altitude no Turcifal.

O futuro passa pela criptomoeda

Uma das particularidades do projeto de Sidorenko é que os seus negócios assentem na criptomoeda. A quem comprar moeda da empresa do russo «serão permitidos pagamentos através de Kylixes’s» (uma espécie de bitcoin). A palavra vem do grego, significa cálice e é o nome dado por Roman à moeda que cunhou exclusivamente para os serviços e produtos relacionados com o vinho que pretende criar.

O empresário diz que há uns anos «era mais difícil criar e trocar moeda virtual do que é hoje» e considera que as plataformas de ponta suportam o desenvolvimento do mercado de criptomoeda, que, nas suas palavras, «tende a crescer». Daí a aposta.

Por detrás desta tendência «está a revolução tecnológica e matemática», que permitiu a criação de blocos virtuais em que decorrem essas transações, chamados blockchain. Estes espaços digitais, que funcionam mais ou menos como o Visa, implicam a descentralização como medida de segurança e transparência nas operações, e são acima de tudo um protocolo de confiança.

«Antigamente era preciso vender parte da empresa aos investidores. Com a revolução das criptomoedas isso já não acontece. Temos mais autonomia».

De acordo com Roman Sidorenko, este meio «tem facilitado o crescimento de empreendedores de startups que cunham moeda» e tem concedido maior liberdade do que os mecanismos tradicionais: «antigamente era preciso vender parte da empresa aos investidores, mas com a revolução das criptomoedas isso já não acontece. Temos mais autonomia».

Além do financiamento, existem outros fatores para a concretização do Lyssa Estate. O empreendedor está otimista. Apesar da seca severa, acredita que o facto de estar «numa zona montanhosa e ao mesmo tempo próximo do Atlântico» lhe será favorável. «Nunca está demasiado quente. O vento está sempre a soprar, o que é benéfico para os solos com o que traz do mar». Além disso, «Portugal tem todas as condições para produção vinícola. Os vinhos portugueses têm muita qualidade, existindo uma cultura sofisticada à volta da bebida».

Uma app de sexo, um Silicon Valley que já não é «hot» e uma Rússia em «fúria»

Em 2014, com a aplicação Pure the hook up, Sidorenko concorreu ao Lisbon Challenge e ficou em terceiro lugar «Não é como o Tinder, em que as pessoas procuram colecionar gostos. É mesmo para aventuras e encontros sexuais», explica.

O prémio pelo terceiro lugar foi a atribuição de «30 anos de escritório gratuito», que aliado à ambição de ter o seu próprio vinho, o levou a procurar um programa de incentivo a empreendedores estrangeiros.

«Os preços em Silicon Valley estão cada vez mais altos. Perdeu harmonia. é um sítio cada vez mais apenas de homens brancos»

A Pure cresceu, nomeadamente nos Estados Unidos, no Reino Unido e na Rússia, dando-lhe bagagem e «conforto para se focar no projeto vinícola». Antes da vinda para Portugal, vivia em São Francisco, mas é Lisboa que o tem encantado: «não precisa de comparações. Brilha sozinha», diz a propósito de um fenómeno que considera estar a acabar com a harmonia de Silicon Valley «os preços estão demasiado altos e é um sítio cada vez mais de homens brancos».

O russo está a estudar um livro português sobre arquitetura vinícola para ter ideias para o seu projeto.

Da Crimeia, a sua terra, só tem «saudades da mãe». «Nos últimos dez anos, a Rússia tornou-se um país com uma sociedade zangada e agressiva», diz. Não quer comparar Trump a Putin, porque considera que o último «é protagonista de um regime opressivo.».

Rússia e Estados Unidos fazem, por agora, parte do passado. É em Portugal que quer construir o futuro que sempre desejou: ter terrenos e produzir vinho.

Uma coisa Roman Sidorenko garante: «vai ser um vinho único e especial. Mais do que um vinho será uma experiência. Nada conservadora.».