Gostava de ter um porquinho de estimação?

Texto de Ana Pago | Fotos de Reinaldo Rodrigues/Global Imagens

Sempre que passeia pelas ruas de Boavista Silveira, em Torres Vedras, ou vai até à praia de Santa Cruz, a dois passos de casa, José Perneal chama a atenção. Não é tanto pela sua aparência: sendo alto e moreno, de expressão aberta e um perfil afiado de pássaro, talvez nem desse nas vistas se fosse sozinho pela vizinhança, um homem de 57 anos como tantos outros. Já levar à trela um porquinho que se porta como um cão é um espetáculo em qualquer lugar. «A Necas é uma companheira. Só lhe falta falar», diz o dono e criador de minipigs, embevecido com a mascote cor-de-rosa de dois meses e pouco, com olhos como uvas. «Ela dorme comigo e com a minha mulher, é um dos nossos bebés. Daí, também, ser tão sociável, além de meiga e muito limpa.»

Tudo características, segundo José Perneal, que fazem destes potbelly miniatura – a raça de minipigs com que trabalha – animais cada vez mais procurados para companhia, a par de cães e gatos. Com a vantagem imediata de não causarem alergias, não serem propícios a apanhar pulgas ou carraças, nem terem cheiro. «São animais muito calmos e dóceis, inteligentes, fáceis de treinar», enumera o único criador de miniporquinhos certificado em Portugal pela International Miniature Pig Foundation and Registry, uma entidade reguladora nos EUA. Tão calmos que tem vendido alguns para crianças com autismo, recomendados por psicólogos e psiquiatras, e ele mesmo considera apostar nesta vertente de terapias assistidas no futuro.

minipigs
O criador garante que os minipigs são sociáveis, meigos e muito limpos.

«No aeroporto de São Francisco, Califórnia, estão a usar um minipig chamado Lilou para acalmar os passageiros em stress. Acredite, são um descanso para a cabeça», sublinha, por experiência própria e pelo que lhe dizem os donos dos cerca de 100 porquinhos que já vendeu. Mais até do que um bálsamo para os nervos, são uma paixão sem a qual não se imagina a viver desde que levou para casa os seus primeiros quatro potbelly miniatura, há coisa de seis anos. «Vi-os pela primeira vez num centro comercial de Lisboa que prefiro não nomear. Vim para casa a pensar neles, li tudo e mais alguma coisa na internet, fascinado.» No dia em que se deitou e sonhou com porcos em miniatura, decidiu que tinha de voltar à loja a bem da sua sanidade mental.

«Fiquei com os dois últimos casais da raça que agora crio, um rosa e outro preto, todos com quatro meses e certificados», conta José Perneal, que nunca se arrependeu dos 450 euros que deu por cada porquinho na altura. Dos nove minipigs seus que tem atualmente na moradia de Torres Vedras, o Bacon, a Betty e a Matilde ainda fazem parte desse grupo original de quatro que comprou no shopping. Desde então, com sorte e bastante cuidado, tem vindo a conseguir que gerem ninhadas um pouco mais pequenas do que é habitual no potbelly miniatura comum: minipigs com um peso variável entre 25 e 35 quilos em adultos (por volta dos dois anos), medindo de 30 a 40 centímetros – quando o porco comum pode ter 80 centímetros de altura e pesar 500 quilos.

«Faço questão de que venham buscar os porquinhos para lhes mostrar os pais e ter a certeza de que sabem ao que vão.»

«Ficámos agora com a Boneca, para termos crias malhadas, e com a Necas, por ser pequenina e amorosa. A ideia é virem também a ser reprodutoras para dar descanso às porcas mais velhas», explica o criador, considerando ser possível reduzir ainda mais o tamanho dos minipigs com esta seleção prévia antes dos cruzamentos. E quando têm de os vender? «É um drama! Criamos laços muito fortes», reconhece Teresa Perneal, a esposa. Cuidam deles enquanto mamam (por 21 dias), os desmamam (mais duas semanas), os levam para dentro de casa para habituá-los aos sons e socializá-los. São horas e horas a dar-lhes colo, comida, banhos. A passar-lhes protetor solar para não escaldarem – fator 50 nos porquinhos rosa, 25 nos escuros – e a trabalhar em parceria com um veterinário local que os ajuda com vacinas, rações, esterilizações.

José Perneal é o único criador de miniporquinhos certificado em Portugal pela International Miniature Pig Foundation and Registry, uma entidade reguladora nos EUA.

Dois meses depois, finalmente prontos para serem entregues aos novos donos, a alegria de os ver partir felizes é tão grande quanto a dor do vazio que lhes deixam no peito. «Até o nosso cão Hulk, que faz de baby-sitter sempre que andam a correr no jardim, se enfia nos carros das pessoas quando os vêm buscar», diz Teresa. José confirma que o corte só não lhe é insuportável por se manter em contacto com os donos, que lhe mandam fotografias e pedem para visitá-lo se passam na zona. «Conheço-os a todos, de norte a sul. Faço questão de que venham buscar os porquinhos para lhes mostrar os pais e ter a certeza de que sabem ao que vão.» Regra geral, até sabem. Embora já tenha tido um senhor que desistiu ao perceber, na hora, que os minipigs não ficam bebés para sempre. «É preferível assim.»

Outra coisa que José Perneal insiste em saber é se a pessoa vive em moradia ou apartamento e, nesse caso, se tem um terraço onde o minipig possa andar à vontade.

Outra coisa que teima em apurar é se a pessoa vive em moradia ou apartamento e, nesse caso, se tem um terraço onde o minipig possa andar à vontade. «Salvo raras exceções, não vendo para apartamento», avisa o empreendedor, em permanente contacto com criadores de potbelly miniatura no México, EUA, Suíça, Alemanha e outros, a fim de trocar ideias. É um eterno curioso, este moçambicano de Nampula que se mudou para a África do Sul com o 25 de Abril e por lá ficou quatro anos, a estudar no liceu Sir John Adamson High School. Aos 18, ou ficava e ia para o serviço militar, ou saía de vez de Joanesburgo. Veio para Portugal, pôr música como disc jockey no casino velho de Santa Cruz.

Hoje em dia, quando não está a assar carne na churrasqueira onde trabalha (ironia das ironias), José Perneal cuida dos seus meninos sem querer ouvir falar de febras ou couratos. Um homem não é de ferro, bolas. Bem basta saber que os minipigs surgiram porque não convinha ter porcos de 500 quilos no laboratório. «Já ouviu a expressão “se queres conhecer o teu corpo, abre um porco”? Pois foi para realizar estudos biomédicos, pela sua semelhança ao homem, que os cientistas cruzaram porcos cada vez menores, partindo do vietnamita e outras linhagens criadas para experiências médicas», conta. Os seus podem ser encontrados em www.reinodosminipigs.com e custam 250 euros, mais 95 euros se o dono quiser certificado.

MITOS E VERDADES ACERCA DOS MINIPIGS

PEQUENINOS NÃO QUER DIZER SILENCIOSOS

ESTES ANIMAIS QUEREM-SE GORDINHOS

OS PORQUINHOS NÃO COMEM TUDO E MAIS ALGUMA COISA

SE SÃO PORCOS, ENTÃO SÃO SUJOS

MINIPIGS SÃO COMO OS CHIHUAHUA: CABEM NA MALA

NÃO SENDO CÃES OU GATOS, DEVEM SER ESTERILIZADOS

Verdade. Os pigs não esterilizados são mais propensos a problemas comportamentais e de saúde: infeções e cancros do foro reprodutivo nas fêmeas, ejaculação para marcar território nos machos, agressividade nos dois géneros. Os machos devem ser esterilizados mal tenham os testículos completamente formados (cerca dos três meses) e elas aos seis meses, no primeiro cio bem definido.