O poder leva à perda de capacidades mentais, diz a ciência

Texto de Sara Dias Oliveira | Fotografia de Shutterstock

[Publicado originalmente em agosto de 2017]

O poder causa danos no cérebro? A pergunta soou no meio científico, fizeram-se estudos e mais estudos, experiências de campo, e tudo indica que o poder tem efeitos secundários. Na cabeça e no comportamento.

Os líderes vão perdendo capacidades mentais, começam a ter dificuldades em ler os outros, em colocar-se no lugar do outro. Tornam-se mais impulsivos, a empatia começa a perder significado, perdem contacto com a realidade. Tornam-se mais imprudentes. O poder é como uma droga.

A revista norte-americana The Atlantic escreveu sobre isso e lembrou a frase do historiador Henry Adams que, certo dia, disse que o poder era «uma espécie de tumor que acaba por matar as simpatias da vítima.» A frase não é totalmente desfasada da realidade.

Segundo a publicação norte-americana, Dacher Keltner, professor de psicologia da Universidade de Berkeley, analisou vários estudos e experiências de campo que indicam que pessoas sob influência do poder ficavam como se tivessem sofrido uma lesão cerebral: mais impulsivas, menos conscientes do risco, menos capazes de ver o mundo sob o olhar dos outros.

Estudos demonstram que pessoas sob influência do poder ficam como se tivessem sofrido uma lesão cerebral: mais impulsivas, menos conscientes do risco, menos capazes de ver o mundo sob o olhar dos outros.

Keltner encontrou o paradoxo do poder, ou seja, os poderosos vão perdendo capacidades importantes para alcançar esse mesmo poder. Sukhvinder Obhi, neurocientista da Universidade McMaster, em Ontário, Canadá, conclui que os poderosos perdem essa capacidade de se olharem ao espelho, de se colocarem na pele do outro, a empatia e sintonia com os outros. Há experiências que revelam que as pessoas poderosas têm maiores dificuldades em identificar o que alguém sente ou adivinhar como um colega interpreta o que vê.

O poder, segundo alguns estudos, ativa o cérebro para detetar informações periféricas. O que pressupõe que a persuasão entra em ação e que não seja assim tão importante ler os outros, ou perceber o que pensam. Mas a perda de noção da realidade pode ser perigosa e os poderosos podem atravessar uma linha arriscada, para uma certa loucura contraproducente.

Há cientistas que falam mesmo numa desordem de posse do poder, daquele poder de sucesso irresistível, e as características clínicas dessas cabeças indicam desprezo pelos outros, perda de contacto com a realidade, ações imprudentes, demonstrações de incompetência.

O poder afeta o cérebro, mas é possível que os líderes pensem, de vez em quando, que não são poderosos? É possível. No entanto, para o psicólogo Keltner, o poder entranha-se e torna-se um estado mental.