Para atar os laços de família

Como se promove a união familiar? Como se melhoram situações-limite para impedir que crianças em risco tenham de ser institucionalizadas? Como se impulsiona o regresso a casa de quem vive em instituições? A Associação Movimento de Defesa da Vida procura responder a estas e outras questões.

«Negligência, violência doméstica e familiar, falta de higiene, deficiente gestão doméstica, carência de competências parentais, desemprego, alcoolismo, abuso sexual, delinquência, toxicodependência, problemas de saúde mental.» Bárbara Rodrigues, coordenadora do núcleo do Norte do Movimento de Defesa da Vida (MDV), lista os problemas. É com estas (e outras) situações vividas por famílias que a instituição se depara no dia-a-dia.

Através da sinalização feita por várias entidades com quem o MDV tem parceria, como Comissões de Proteção de Crianças e Jovens, escolas, lares, unidades de saúde familiar ou hospitais, as famílias identificadas passam a ser apoiadas, nas suas casas, de forma contínua, por técnicos do MDV. Após uma primeira reunião com a família, organizada pela entidade que sinaliza a situação, o trabalho inicia-se. «Durante quatro a seis semanas, os técnicos estão disponíveis 24 horas, sete dias por semana e só acompanham duas famílias de cada vez nesta fase intensiva. Acreditamos que a crise não acontece das nove às cinco, mas quando toda a família está reunida em casa», explica a coordenadora.

Depois seguem-se visitas de acompanhamento ao longo de um ano. O trabalho desenvolvido tem por base uma metodologia de intervenção específica, inspirada no modelo norte-americano Families First – Homebuilders, implementado pelos Serviços Sociais do estado do Michigan desde 1974 e que constitui a base dos projetos que o MDV desenvolve junto das famílias. «Esta metodologia é pioneira no nosso país e os técnicos têm uma formação inicial de quarenta horas para interiorização de conceitos», diz Bárbara. Uma das particularidades do projeto é o facto de o técnico acompanhar a família na sua zona de conforto, o seu lar. «No começo, sou uma estranha, mais uma técnica. É preciso tempo para ganharem confiança», explica Joana Morais, técnica e assistente familiar deste projeto do núcleo do Norte.

«Damos apoio no desenvolvimento de competências de gestão económica. Algumas famílias têm muitas dívidas (água, luz, renda da casa), mas não reconhecem que têm dificuldade em gerir o dinheiro. Explico-lhes que não posso dar ajuda financeira mas que é possível apoiar a melhorar a gestão do orçamento familiar.»

Seguem-se contas, explicações sobre a gestão doméstica, culminando com idas às instituições onde existem dívidas para que seja solicitado um plano de pagamento em prestações. «Acompanho a família aos serviços. Por norma, são pessoas que não sabem como abordar os funcionários nem comunicar de forma eficaz, mas são elas que tratam dos assuntos», sublinha. «Os técnicos não mandam fazer, fazem com as famílias», acrescenta Bárbara Rodrigues.

Os técnicos acompanham também atividades do dia-a-dia. «Algumas famílias têm dificuldade em perceber que ir a uma mercearia de bairro fica mais caro do que fazer compras numa grande superfície.» E Joana já passou um dia inteiro a ajudar uma família a limpar a casa devidamente.

Outra situação que traz alguns conflitos familiares prende-se com as faltas dos menores às aulas. «Os miúdos não assumem que faltam ou evitam que a informação chegue a casa. Há que tentar que o encarregado de educação tenha reuniões com a diretora de turma e passe a acompanhar mais proativamente o percurso escolar dos filhos», diz Joana.

Por vezes o telemóvel de Joana toca de madrugada com pedidos de auxílio. Há sempre famílias que precisam de ajuda, 24 horas por dia. O objetivo é reduzir fatores de risco e promover uma vida em segurança das crianças em suas casas. Quando as situações se descontrolam, por algum motivo, a forma de atuar passa a ser outra. «Sempre que as crianças corram perigo, acautelamos a sua segurança, comunicando e articulando, em rede, com parceiros e entidades, como a PSP e o Gabinete de Apoio à Vítima», diz Bárbara. Apesar de a missão do MDV passar pela união familiar, as crianças não podem correr perigo.

Em 2015, as várias delegações do MDV acompanharam 505 crianças, de 263 famílias. «A taxa de sucesso desta metodologia de intervenção situa-se acima dos 75%. Nestes casos, os menores permanecem nas suas casas», reforça a coordenadora.
Em novembro do ano passado, o núcleo do Norte do MDV foi distinguido com uma menção honrosa na primeira edição do Prémio BPI Solidário, cujo objetivo é apoiar projetos que promovam a melhoria das condições de vida de pessoas em situação de pobreza e exclusão social.

Os 58 mil euros recebidos permitiram alargar a atuação da IPSS. «Com este dinheiro conseguiremos suportar os cu stos do projeto, que tem a mesma metodologia de outros desenvolvidos no MDV, mas que se destina a famílias de Vila Nova de Gaia, onde ainda não estávamos», explica a coordenadora, Bárbara Rodrigues.

 

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