Os discursos de Sobrinho Simões deram um livro

Os Portugueses – De Onde Vimos, o que Somos, para Onde Vamos é um livro pequeno em dimensão, mas grande em conteúdo.

Os discursos de Sobrinho Simões no 10 de junho deste ano, na qualidade de presidente da comissão organizadora das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, e no dia seguinte no Rio de Janeiro, no âmbito das mesmas comemorações, mais o texto redigido no Porto a 14 de abril de 2003 e lido na cerimónia de entrega do Prémio Pessoa 2002, e ainda as suas declarações na cerimónia de entrega do Grande Prémio Ciência Viva Montepio 2016 no Pavilhão do Conhecimento, a 27 de novembro de 2016, estão agora reunidos num livro editado pela Gradiva, com prefácio de Marcelo Rebelo de Sousa.

O médico, professor universitário jubilado, especialista em cancro, fundador e diretor do Ipatimup – Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto, Prémio Pessoa 2002, eleito, pelos seus pares, como o patologista mais influente do mundo, aborda vários assuntos.

«Sem pôr em causa a necessidade de apostarmos, a sério, na descentralização, penso que Portugal é demasiado pequeno para tolerar bairrismos de qualquer tipo. Mesmo aqueles que se escoram na ideia de que “o Porto é uma nação”.»

Quem somos? «Somos, antes de mais, organismos multicelulares». De onde vimos?

«Vimos sempre dos genes herdados do pai e da mãe e da interação com o mundo. Mundo esse que está literalmente dentro de nós no tubo digestivo, no aparelho respiratório, no trato urinário (arrepia-nos sempre pensar que no lume intestinal e nos alvéolos pulmonares estão bocados do universo, mas é mesmo verdade…)».

E para onde vamos? «Vamos para onde formos levados pela qualidade das pessoas, da sua organização e das instituições que soubermos reforçar».

«Deveríamos ser capazes de integrar gentes que se veem obrigadas a fugir de casa, comportando-nos como uma comunidade inclusiva e solidária. Uma comunidade que tem de perceber o valor sociocultural, económico e até demográfico da integração dos migrantes».

A família, a educação, as cidades, o cancro, os genes. Tudo assunto sobre os quais reflete. A família e a sua importância como, sublinha, o único elemento «que nos aperta como uma tenaz: os genes por um lado e a educação por outro». A aposta na educação para colher no futuro.

E o cancro, a sua especialidade. «a doença mais terrível dos seres multicelulares, o cancro, resulta da perturbação dos mecanismos que regulam a comunicação intercelular e a regeneração, levando ao aparecimento de células que fogem ao controlo homeostático e se tornam imortais».

«As pessoas são uma coisa muito especial mas são também seres relativamente banais. Proliferam, diferenciam-se e morrem como qualquer outro ser vivo».

Sobrinho Simões sabe que os tempos são difíceis, mas acredita que temos tudo, dos meios genéticos aos ambientais, dos socioculturais aos tecnológicos, para encararmos o futuro de frente e pela positiva. E há parcerias que, na sua perspetiva, dariam muito jeito, as parcerias público-públicas, instituições fortes que «criem oportunidades, recompensem o mérito e potenciem a capacidade de saber-fazer».