Querido Paulo,
Pensei bastante se devia escrever-te ou não. Isto de enviar cartas ou e-mails ou sms ou sinais de fumo ou pombos-correio para alguém é sempre uma forma invasiva de fazer passar uma mensagem. Ora eu, como deves calcular, prefiro métodos mais discretos. Intervenções mais subtis. Além disso, receberes uma carta minha fará de ti um tipo potencialmente (mais) vaidoso e vais a correr a dizer a meio mundo que o Universo te escreveu. Ou, pior, espetas com a carta numa crónica.
Andei aqui a remoer os pontos cardiais e a matutar sobre a tua prestação e a tua generosidade para com os povos do mundo e a natureza. E constatei, ultimamente, que não tens sido um bom ser de luz e energia. A cabeça do teu corpo terreno tem-se portado um pouco mal, com tantos pensamentos críticos para com os irmãos em redor. E não faças essa cara ao ler isto. Sabes bem do que falo, rapaz. Estou a referir-me a esses revirares de olhos, a esses suspiros, a essas faltas de paciência que manifestas perante as pessoas que dedicam o seu tempo a ajudar os outros a encontrar os respetivos caminhos de luz. Não sabes do que estou a falar? Da jornada que devem fazer. Do caminho a percorrer. Da vida dos outros, porra! As pessoas que dão bitaites sobre a forma como os outros devem levar a vida. Percebeste agora?!
Então, eu dou-te uma ferramenta tão boa como o Facebook e tu bloqueias os «amigos» que partilham frases inspiradoras? Tu escolhes «não seguir» as pessoas que escrevem «Bom dia Universo»? Tu recusas pedidos de amizade de seres que têm fotografias de perfil com estrelas, com bebés a dormir em cima da palma da mão de alguém, com cascatas inspiradoras ou gotas de orvalho sobre uma folha? Então, tu tens gente que se quer aproximar de ti e espalhar uma mensagem de amor e tolerância e amizade e tu não aceitas? Há pessoas, emissários dos planetas (não são extraterrestres, isso é outra coisa, pá), que se querem aproximar de ti para te mostrar o caminho das pedras pelo meio da borrasca que é a vida, ajudando-te a encontrar o verdadeiro eu interior, cheio de luz e calor, e tu dás-te ao luxo de pensar «olha-m’outro que tem tempo a mais e quer doutrinar o mundo»?
Mas quem pensas que és? Quem te julgas tu para recusar fazer entrevistas a autores de livros de autoajuda e evolução espiritual, só porque essas coisas não têm validação científica? Tu queres que eu te fale de validação científica? A validação científica só existe porque eu quero. Eu sou o Universo, lembras-te?
Tu e outros como tu, que têm a mania de ser céticos em relação aos anjos de luz e aos seres de cristal e aos animais que falam e às árvores que abraçam, vocês é que empancam isto tudo. Tu e os teus amigos não crentes. Não estou a falar de Deus. Isso é outro departamento. Eu sou o Universo. O que é. O que está. Percebes?
Olha, meu menino, ficas a saber: das primeiras vezes que gozaste com o Gustavo Santos ou ironizaste algum autor de livros de bem-estar e crescimento pessoal, pensei em mandar dois astrólogos guineenses grandalhões alinhar-te os chakras com um bastão. Era remédio santo. Mas depois pensei que isso não iria atrair bom karma. E logo para mim. O Universo não pode ter mau karma. E depois também percebi que tu não és mau tipo e não colocas tudo no mesmo saco. Tu estás só encarnado numa forma física um pouco cética. Desde que ninguém te queira doutrinar para aprenderes a falar com o ar, tu vives bem com isso.
E também já percebi que és um fulano generoso e grato pelo que tens. Mas, caramba, bem podias ir a um workshop para aprender a diferença entre seres de luz e seres galácticos. Não te fazia mal nenhum. E come-se bem, nesses sítios. Vê lá se abres a cabeça.
Atenciosamente, com um abraço de luz e espiritualidade, O Universo.