Texto Ricardo J. Rodrigues | Fotografia Arquivo DN
Era manchete na primeira página e ocupava as páginas centrais do jornal. A 25 de março de 1992, o Diário de Notícias noticiava na capa «Alunos voltam à rua» e acrescentava este texto: «O dia do Estudante foi ontem assinalado em todo o país com manifestações de rua contra o aumento de propinas em Lisboa, Coimbra e Aveiro, enquanto no Porto os universitários ergueram barricadas nas escolas, impedindo a entrada dos professores. Nas ruas de Lisboa, os alunos do secundário juntaram-se aos seus colegas do ensino superior, insurgindo-se uma vez mais contra a PGA.»
Este foi um dos momentos iniciais de um movimento que haveria de marcar a década de 1990. Depois dos combates estudantis contra a ditadura no final dos anos 1960, nunca os estudantes tinham tomado de forma expressiva uma atitude de combate. Primeiro por causa da PGA, uma prova de cultura geral de acesso ao ensino superior que começou a ser exigida em 1989 e colhia cada vez menos consenso na comunidade escolar, acabando por ser revogada em 1993.
Mas o problema já se tinha adensado antes. Cavaco Silva tinha vencido por maioria absoluta as eleições de 1991 e, ao anunciar intenção de aumentar as propinas nas universidades, o verniz tinha estalado definitivamente.
O auge dos confrontos aconteceria em novembro de 1994, quando alunos que protestavam junto à Assembleia da República enfrentaram uma carga policial depois de forçarem o acesso às escadarias. Na manifestação seguinte, com Manuela Ferreira Leite como ministra da Educação, milhares de estudantes disseram que não pagavam e quatro mostraram o rabo à ministra.
Com o tempo, percebeu-se que essa era a desculpa de que o governo precisava para levar a sua avante. A mais preparada geração do país acabaria apelidada de «rasca». E o aumento das propinas acabaria por vingar.