O seu filho tem diabetes? O que fazer?

Notícias Magazine

Texto de Sara Dias Oliveira

A diabetes é uma condição crónica. Uma vez diabético, diabético para toda a vida, seja qual for o sexo ou a idade. As crianças, adolescentes e jovens também são afetados por esta doença que tem dois tipos, tipo 1 e tipo 2, que exige alguns cuidados é certo, mas que não deve condicionar a vida de quem está a crescer. Não há alimentos proibidos, a alimentação deve ser equilibrada, e o exercício físico é recomendado.

O Governo acaba de anunciar que as bombas de insulina serão gratuitas até aos 18 anos. Esta medida estará em vigor até 2019. Até ao final deste ano, as bombas serão gratuitas para todas as crianças até aos 10 anos, em 2018 o apoio alarga-se aos jovens até aos 14 anos e em 2019 inclui todos até aos 18 anos.

É preciso vigilância, mas os diabéticos mais novos não devem fazer nem mais nem menos do que se não tivessem a doença. Devem conhecer bem o seu corpo, as necessidades do seu organismo. E ter os pais por perto é sempre uma grande ajuda.

A partir dos oito anos, as crianças já podem aprender como devem injetar insulina e tudo o que esse processo implica. Cada caso é um caso. E com a chegada da adolescência, há jovens que ficam revoltados. E aí é preciso a máxima atenção.

«A idade que mais preocupa é a partir dos 12, 13 anos, em que há uma grande revolta contra a diabetes», diz o médico José Manuel Boavida.

«Crianças com menos de cinco anos não guardam memórias de quando não eram diabéticas», refere José Manuel Boavida, médico, especialista em endocrinologia e presidente da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal. «A idade que mais preocupa é a partir dos 12, 13 anos, na altura da puberdade, em que há uma grande revolta contra a diabetes. E se a diabetes surge nessa idade, o impacto é tremendo, muitas vezes com quadro depressivo».

Por isso, os pais são fundamentais para ajudar a lidar e a viver com a doença. «As crianças e jovens não devem fazer nem mais nem menos do que fariam se não tivessem diabetes», adianta o especialista. Os excessos, os erros, as compensações dos erros, fazem parte. Podem ter uma vida normal com tudo o que isso representa. Têm de conhecer bem o seu corpo, como funciona, do que precisa.

Alimentação e exercício físico

Nas crianças e jovens, os pais devem estar atentos a vários sinais. Como o organismo excreta glicose pela urina, é preciso perceber se há aumento da frequência urinária e da ingestão de água. Perda de peso, fadiga e aumento do apetite, são outros sinais.

«A persistência da hiperglicemia marcada, aliada ao aumento de substâncias resultantes destes mecanismos alternativos de obtenção de energia, conduz a dor de cabeça, irritabilidade ou prostração e alterações do estado de consciência, com necessidade de recurso imediato ao serviço de urgência», diz Júlia Galhardo, médica pediatra, especialista em obesidade e diabetes.

«Contrariamente, a diabetes tipo 2 tem uma apresentação arrastada, de vários anos. Frequentemente, não apresenta sintomatologia, sendo a situação identificada em análises de rotina», acrescenta.

«Não há alimentos proibidos, exceto no caso de alergia ou intolerância. Doces, bebidas açucaradas, fritos ou fast food são exceções que devem ser consumidas apenas esporadicamente», diz a pediatra júlia galhardo.

Como deve ser a alimentação de uma criança e adolescente com diabetes? «Deverá ser idêntica à recomendada para qualquer criança ou adolescente sem diabetes: variada e equilibrada nutricionalmente, sem recurso a produtos processados (com alto teor de sal, açúcar e gorduras saturadas ou trans) e tendo por base a dieta mediterrânica (rica em produtos hortícolas, frutos, leguminosas, cereais integrais, peixe, carnes magras, frutos secos oleaginosos e azeite)».

E a água, o centro da Roda dos Alimentos, deverá ser a bebida de eleição. «Não há alimentos proibidos, exceto no caso de alergia ou intolerância. Contudo, os doces, as bebidas açucaradas, os fritos, os pratos de fast food são exceções que deverão ser consumidas apenas esporadicamente, em dias de festa, e de forma regrada».

Fazer exercício físico porque melhora o controlo do peso e o metabolismo da glicose. E não só. «Além disso, aumenta a capacidade cardiorrespiratória, a coordenação e a força muscular; estimula a deposição de cálcio nos ossos; promove a sociabilização, a libertação de hormonas que conferem sensação de bem-estar e o sono reparador», refere.

Diabetes tipo 1 e tipo 2, as diferenças

Nesta doença, o organismo é incapaz de utilizar e armazenar convenientemente a glicose, um açúcar proveniente dos alimentos e que constitui a fonte de energia para o funcionamento das células, levando ao seu aumento exagerado no sangue, a chamada hiperglicemia. «Esta alteração pode ocorrer em qualquer idade, desde o recém-nascido ao idoso», diz Júlia Galhardo.

Neste assunto, e seja qual for a idade, é preciso saber que há a diabetes tipo 1, uma doença autoimune, na qual um indivíduo com predisposição genética produz anticorpos que destroem progressivamente as células pancreáticas produtoras de insulina. O diabético tipo 1 passa assim a depender completamente de insulina externa. Neste momento, continuam por desvendar possíveis formas de a prevenir ou de travar a progressão da destruição imunológica das células produtoras de insulina.

Na diabetes tipo 1, doença autoimune, o doente depende de insulina externa. a diabetes tipo 2 está a aumentar nos jovens dada a obesidade em idades mais precoces.

Na diabetes tipo 2, quando apesar de produzir insulina, o organismo não é capaz de a usar de forma adequada, há uma resistência à insulina. E, nas últimas décadas, com o aumento da obesidade em idades mais jovens, a prevalência deste tipo de diabetes tem vindo a aumentar mais precocemente, nomeadamente na adolescência.

«O tratamento passa pela redução do peso através da aquisição de um estilo de vida mais saudável (alimentação equilibrada e aumento do exercício físico) e por fármacos (na sua maioria comprimidos) capazes de otimizar a ação da insulina que o organismo ainda consegue produzir.

Em última instância, quando o cansaço do pâncreas gera uma produção insuficiente de insulina, esta passa a ter que ser administrada externamente», adianta a médica pediatra. «Contrariamente, vários estudos têm demonstrado a associação entre a obesidade (e a inflamação dela decorrente) e a resistência à insulina, pelo que a aquisição de hábitos de vida saudáveis permitem a prevenção da diabetes tipo 2 e mesmo o seu retrocesso», acrescenta.