O seu filho tem amigos imaginários? É normal

Texto de Sara Dias Oliveira | Fotografia de Shutterstock

Pode parecer estranho, mas é normal. Habitualmente as crianças entre os três e os seis anos têm amigos imaginários. Não existem na vida real, existem nas suas cabeças. Podem ser bonecos, animais, objetos, ou nem sequer ter existência física. É uma forma de os mais pequenos descobrirem gradualmente a sua identidade, experimentarem todas as facetas da sua personalidade, serem quem quiserem, comandarem o seu mundo.

É um sinal de desenvolvimento emocional e cognitivo saudável e que a imaginação está a fazer o seu caminho. A menos que se fechem demasiado nesse mundo e não queiram brincar com outras crianças. Nesse caso, há motivos para preocupações.

«A capacidade de construir um mundo imaginário e pessoas imaginárias, de dar vida a um boneco querido, é um indício de que ela está a desenvolver rapidamente a capacidade de testar os limites do seu mundo. Isto torna-se uma maneira de afastar os demónios que a cercam – o ódio, a inveja, a mentira, o egoísmo e a falta de seriedade», escreveu o norte-americano T. Berry Brazelton, pediatra durante mais de 40 anos, no seu mítico livro O Grande Livro da Criança.

Os pais não devem ter ciúmes dos amigos que não existem, devem perceber o papel que os imaginários têm no reino da fantasia, e estimular as brincadeiras com os amigos reais.

Os amigos imaginários devem ser respeitados. Há, no entanto, pais que podem sentir ciúmes ao perceberem que há mais gente na vida do seu filho. Há pais que se assustam por não haver fronteiras entre a realidade e a fantasia. Há irmãos mais velhos que podem fazer troça dessa imaginação e destruir a liberdade de explorar esse mundo de fantasia do irmão mais novo.

Mas essa fase da vida das crianças, que lhe proporcionam momentos de descoberta, é normal e deve ser digerida como uma etapa do crescimento dos mais pequenos. Os amigos imaginários podem ser um ensaio para amizades futuras.

Mas nem tudo é normal. Se a criança se isola, há razões para preocupação. Se não consegue largar os amigos imaginários para brincar com os amigos de carne e osso, é preciso conversar. A socialização com colegas da sua idade é muito importante.

«Se não conseguir pôr de lado os seus amigos imaginários para estar com os verdadeiros, isso é motivo para preocupação. Se se alhear de uma participação ativa na escola e nas brincadeiras, os amigos imaginários podem representar um sintoma de demasiado isolamento e de uma criança muito solitária», alertou Brazelton no seu livro.

Por isso, convém estar atento. Os pais não devem ter ciúmes dos amigos que não existem, devem perceber o papel que os imaginários têm no reino da fantasia, e estimular as brincadeiras com os amigos reais.

E outra coisa: desligar a televisão ou as tecnologias durante a maior parte do dia. Se uma criança passa o tempo colada ao ecrã não terá tempo para explorar as suas próprias fantasias. E isso não é aconselhável. A televisão ou o tablet pode impor «um mundo artificial de violência e de bem e mal inatingíveis» e entorpecer as aventuras imaginárias dos mais novos.