O frio, quando nasce, não é para todos

A vaga de frio que tomou conta do país vai manter-se nos próximos dias – pelo menos até domingo. Os termómetros chegam a graus negativos, os casacos mais quentes já saíram dos armários, vestem-se camadas de roupa, relembram-se cuidados a ter quando o frio aperta. Mas quando o frio aparece, não é igual para todos. O vento, as nuvens, e o mar têm responsabilidades neste assunto. Mais vento, mais frio. Mais nuvens, menos frio. Mais perto do mar, mais calor.

O teto de nuvens ajuda a terra a ficar mais quentinha. E quanto mais perto, melhor. Sem nuvens, há mais frio, já que o arrefecimento tem mais amplitude para acontecer. «Em dias aparentemente iguais e com temperaturas iguais, aqueles que têm nuvens, especialmente baixas, têm um arrefecimento muito menor do que aqueles que têm nuvens altas ou não têm nuvens», explica Pedro Viterbo, diretor do departamento de Meteorologia e Geofísica do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). «As nuvens são o fenómeno que medeia o arrefecimento noturno», acrescenta. Por isso, são nossas amigas quando o tempo fica muito frio.

O arrefecimento está relacionado com altitude, teto de nuvens e nevoeiro. Quanto mais alto for um sítio, menos denso é o ar, mais frio se torna. Nas terras altas, portanto, com Penhas Douradas à cabeça, o frio é de rachar. Na Serra da Estrela, o cenário não é muito diferente. E quanto mais perto do mar, menos frio. Nesta altura de temperaturas negativas, o mar pode ser um grande aliado ao proteger o litoral de tanto frio. A temperatura do mar no inverno é, habitualmente, superior ao valor que vemos no termómetro do ar. «A camada de ar que confina com o oceano pode passar para terra», refere Pedro Viterbo. O que, a acontecer, torna o frio mais fácil de suportar.

E ainda há o vento. Se não houver vento, não há diferença entre temperatura real e temperatura sentida no corpo. Com vento, tudo muda. «Se houver vento, trocamos calor com a atmosfera com maior rapidez», adianta Pedro Viterbo. E, assim, ficamos com mais frio.

«A temperatura sentida é mais baixa que a temperatura real quando existe vento», diz o meteorologista João Rio. E há regiões fustigadas com a combinação de temperaturas baixas e vento moderado a forte. Guarda, Viseu e Portalegre são as capitais de distrito mais afetadas. «Em Lisboa, embora as temperaturas mínimas sejam das mais elevadas do país, existe frequentemente vento, pelo que a temperatura sentida é semelhante à de outros locais em que a temperatura do ar é mais baixa, mas não há vento», refere o meteorologista.

Ciclone e depressão
A culpa deste frio é de uma ação concertada de um anticiclone a leste das Ilhas Britânicas e de uma depressão centrada sobre o Mediterrâneo, com expressão em altitude e deslocamento para oeste. A massa de ar frio e seco transportada nesta circulação faz então descer a temperatura mínima. E é expetável que, nos próximos dias, o desconforto térmico aumente devido às baixas temperaturas e ao aumento da intensidade do vento. «Na presente situação meteorológica, há uma combinação de temperaturas baixas com vento que, numa fase inicial, será moderado, sendo mesmo forte em zonas de serra ou expostas a nordeste, o que reforçará a sensação de frio», comenta João Rio.
O IPMA avisa que o frio vai continuar e que a temperatura mínima deverá variar entre – 1ºC e 4ºC no litoral e entre – 5ºC e – 1ºC nas regiões do interior, podendo chegar a -10ºC nas terras altas do interior Norte e Centro. No Sul, a máxima ainda poderá chegar aos 14º C. Esta noite, os lisboetas poderão sentir uma temperatura de – 2ºC e os portuenses de – 5ºC.