Neutralidade, a nova tendência na relação com o corpo

Foto: Pixabay

Este mês, um estudo no Reino Unido considerou o Instagram a pior rede social no que diz respeito ao impacto sobre a saúde mental dos jovens. Em parte porque a maioria das imagens partilhadas amplificam estereótipos de uma beleza padronizada em que imperam barrigas lisas, abdominais definidos e rabos perfeitos.

Mas, como tudo tem o seu contrário, nos últimos anos, sob a hashtag #bodypositive, muitas mulheres têm partilhado imagens dos seus corpos «fora de padrão», com roupa de tamanhos 42 ou 44, celulite nas coxas e barriga proeminente, em imagens muitas vezes acompanhadas de frases como «não existe uma maneira errada de ter um corpo», «odiar o teu corpo nunca te levará tão longe como amá-lo» ou «a moda é um estado de espírito, não um tamanho de roupa».

O que estas mulheres adeptas do movimento body positivity têm tentado mostrar é simples: as dietas, exercício físico, cirurgias plásticas e cosméticos não são a única maneira saudável de lidar com o corpo quando não gostamos dele.

Conseguir amar o próprio corpo era uma tendência tão obrigatória como antes havia sido perder dez quilos e ter abdominais definidos.

O movimento ganhou fama e projeção e tem tido um papel importante na celebração da diversidade e numa definição de beleza mais inclusiva, que promove a autoestima e empodera as mulheres.

Mas surge agora uma nova teoria. Começou com desabafos de mulheres que comentavam «por favor, parem de me dizer que tenho de amar o meu corpo». Parecia que conseguir amar o próprio corpo era uma tendência tão obrigatória como antes havia sido perder dez quilos e ter abdominais definidos.

E começaram a surgir vozes críticas, defendendo que estamos a substituir uma ditadura por outra: agora já não precisamos de ter vergonha de ter celulite, mas temos vergonha de admitir que não gostamos de ter celulite.

Brian Karazsia, professor de Psicologia no College of Wooster (EUA), apresentou no ano passado uma meta-análise de mais de 250 estudos – que abrangem um período de trinta anos – que mostra que a insatisfação corporal entre as mulheres está num mínimo histórico, o que atribui, em parte ao body positivity. De acordo com o investigador, este movimento conseguiu desmistificar a ideia de um tipo de corpo ideal, mas a autoestima que antes estava dependente de ter um corpo magro e tonificado está agora dependente de conseguir amá-lo. E quem não consegue sente-se mal com isso.

Nos últimos meses, bloggers, life coaches e revistas começaram a divulgar um novo conceito que, garantem, vai fazer com que o #bodypositive passe à história: chama-se body neutrality e defende que a relação com o corpo não deve passar por amá-lo ou odiá-lo, mas apenas pela aceitação. Isso não implica negligenciar a saúde, trata-se apenas de interiorizar que o corpo é só um corpo e que será a última coisa a definir quem somos.