Não estar com os amigos é tão nocivo como 15 cigarros por dia

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Texto Ana Pago | Fotografias Shutterstock

Ao fim de uma semana a correr de casa para o trabalho e do trabalho para casa, Sofia Domingos, designer gráfica de 38 anos, sente o desnorte. Não viu ninguém a não ser os colegas, com quem não se dá por aí além por ser nova no emprego. Não foi dançar com o grupo da faculdade (tinha uma apresentação importante na manhã seguinte). Faltou ao jantar semanal das amigas. Para agravar, alguém lhe falou num estudo da psicóloga Julianne Holt-Lunstad, publicado na revista científica Plos Medicine, segundo o qual descurar as relações sociais pode ser tão danoso para a saúde como fumar 15 cigarros por dia, ser alcoólico ou não praticar desporto.

«Lógico que fiquei a bater mal», desabafa Sofia. Em miúda estava o tempo todo com os amigos, e mesmo com os primos que viviam mais longe, e hoje passam-se semanas sem conseguir ver ninguém. «Como se não bastasse, venho a descobrir que isso está diretamente relacionado com a saúde mental de uma pessoa, a morbilidade [relação entre os casos de doença e o número de habitantes de um aglomerado populacional] e o risco de mortalidade. Estou tão tramada.»

Estar isolado é tão nocivo quanto 15 cigarros diários – e duas vezes pior do que ser obeso.

E o mais certo é Julianne Holt-Lunstad concordar: ao analisar dados referentes a mais de 300 mil pessoas, a professora e investigadora da Brigham Young University, no Utah, EUA, concluiu que estar isolado é tão nocivo quanto 15 cigarros diários – e duas vezes pior do que ser obeso. A boa notícia para os mais tímidos, segundo ela, é que ter laços familiares fortes também faz maravilhas pela saúde. Tanto quanto apoiar-se neste círculo chegado de amigos.

«Os amigos são a segunda família escolhida por nós e, como tal, têm um forte impacto na definição da nossa estrutura de personalidade durante a infância e adolescência», explica a psicóloga clínica Filipa Jardim da Silva, salientando o seu papel protetor e de suporte nas várias fases da vida: «Influenciam o modo como nos organizamos no mundo, a forma como estabelecemos e mantemos laços de relação mais íntima e duradoura.»

«É inteligente investir naquelas pessoas que nos fazem sentir bem», diz o investigador norte-americano William J. Chopik.

De acordo com uma pesquisa da Universidade Flinders, na Austrália, adultos com amigos confidentes têm maior probabilidade de viverem mais tempo. Um outro estudo publicado este ano na revista Personal Relationships, realizado pelo investigador em psicologia William J. Chopik (da Michigan State University, EUA), descobriu ainda ser na idade adulta que esta relação entre afetos e saúde se torna mais evidente. Com a amizade, inclusive, a suplantar em importância o apoio familiar.

«É inteligente investir naquelas pessoas que nos fazem sentir bem», incentiva Chopik, ao constatar uma redução de maleitas crónicas como a diabetes, hipertensão, doença coronária e depressões. O seu médico até pode não aprovar as farras constantes com os amigos, mas se elas funcionam…