Mísia vítima de «calúnia organizada»

Texto de Ana Patrícia Cardoso

A sala Baleia Azul do Centro Cultural Kirchner, em Buenos Aires, encheu-se para ver a fadista Mísia, no passado dia 02 de setembro, no concerto de apresentação do seu disco Para Amália. Após o espetáculo, o Expresso publicou um artigo em que acusava a cantora de ter ofendido «a maioria das quase duas mil pessoas» presentes ao recusar-se a cantar a música Casa Portuguesa.

Ainda em Buenos Aires, a polémica apanhou Mísia de surpresa. Ao telefone, o tom é de indignação e irritação pela repercussão do texto. A versão da cantora é outra. «O artigo é um conjunto de mentiras e nem fui contactada pelo jornalista para o contraditório. É uma vergonha.»

«O público era maioritariamente argentino. Havia um grupo pequeno de portugueses, talvez 20 por cento».

Recuando alguns dias, o clima antes do concerto era de entusiasmo, segundo Mísia. «Vim para dois concertos na Argentina. Os bilhetes eram grátis, política do espaço, foram todos reservados em uma hora, pode imaginar o meu contentamento». O artigo do Expresso descreve «uma sala repleta de minhotos e algarvios», mas Mísia contrapõe. «O público era maioritariamente argentino. Havia um grupo pequeno de portugueses, talvez 20 por cento».

O concerto era de apresentação do álbum Para Amália, que Mísia gravou em 2015, com canções da fadista e «não em homenagem a Amália, como foi publicado». Correu tudo como planeado e no momento do encore, em que o público pede músicas, gritaram a Casa Portuguesa. «Não canto essa música. Já tinha acontecido noutros concertos e nunca houve problema. Não a canto no álbum nem em concertos, tenho o meu repertório. É um tema com o qual não me identifico, acho que é uma apologia à pobreza. É uma visão do país com a qual não me identifico.» Em alternativa, cantou Lisboa Antiga, entre a multidão.

«tenho a certeza que isto foi tudo planeado, tudo engendrado. Então, fazem um programa de rádio logo a seguir sobre isto? É uma calúnia organizada.»

«Desde sempre que agradeço a presença dos portugueses nos concertos que dou, tenho uma relação próxima com o público. Quando disse que não cantava a Casa Portuguesa, muitos argentinos nem perceberam a questão, porque falei em português e comecei a cantar outra música. Não houve “silêncio incómodo” como escreve o Expresso».

O artigo provocou reações negativas nas redes sociais. «Recebi muitas mensagens e ameaças. Mas eu tenho a certeza que isto foi tudo planeado, tudo engendrado. Então, fazem um programa de rádio logo a seguir sobre isto? É uma calúnia organizada.»

Para Mísia, o pior não é que a questionem enquanto artista. «Não tenho nenhuma dúvida artística, sei bem quem sou e a carreira que tenho. Já cantei mais de 20 poetas, sempre com respeito. O pior é acharem que eu desprezo a pobreza, as pessoas pobres ou a nossa herança. Eu não nasci com pais ricos.»

Há um lado positivo da situação? «Isto tudo também serviu para perceber que tenho tanta gente a apoiar-me e que me respeita. Recebi muitas mensagens a dar-me força, pessoas que foram ao concerto e não percebem onde está o problema. Esse lado é bom.»

De regresso a Portugal nos próximos dias, a fadista ainda não revela se vai tomar medidas em relação ao artigo.