Mezze: a mesa posta por refugiados sírios onde todos cabem

Texto de Ana Patrícia Cardoso

«Pão». Foi esta a resposta que Alaa Alhariri deu sem hesitação à pergunta «o que sente mais falta da Síria?». Na memória do sabor e cheiro da comida do seu país, esta jovem de 20 anos encontrou conforto para construir um futuro em Portugal. Uma palavra foi o suficiente para Francisca Gorjão Henriques, jornalista, e Rita Melo, designer, decidirem pôr mãos à obra. O projeto inicial era abrir uma padaria árabe.

«O pão é uma peça central na culinária síria, está presente em todos as refeições, mas não vive isoladamente e há tantos pratos saborosos que nos aproximam da cultura do país. Foi por isso decidimos abrir um restaurante onde pudéssemos provar os sabores do país» explica Francisca, no espaço Mezze, no Mercado de Arroios.

Um antigo talho é agora o primeiro restaurante sírio do país e nele trabalham 12 refugiados sírios que fugiram de uma guerra que não é sua. O nome não foi escolhido ao acaso. Mezze significa mesa para partilhar.

Um antigo talho é agora o primeiro restaurante sírio do país e nele trabalham 12 refugiados sírios que fugiram de uma guerra que não é sua. O nome não foi escolhido ao acaso. Mezze significa mesa para partilhar e é disso mesmo que se trata. Uma partilha de sabores, de experiências e culturas.

O caminho foi longo e começou há mais de um ano. «Formámos a Pão a Pão – Projeto de Integração de Refugiados e este é o primeiro de alguns projetos que queremos colocar em marcha», diz-nos Francisca.

Rafat, de 21 anos, é o intérprete do grupo. Fugiu com a família para Portugal e aprendeu a língua em tempo recorde. «Fiz um curso de uns meses e comecei a tentar falar com outras pessoas.» Entre uma pergunta e outra, vai falando em sírio com quem está na cozinha. «Ninguém tinha tido experiência de trabalho, na Síria as mulheres não podem trabalhar.

Cada uma das pessoas que trabalha no Mezze guarda uma história de sobrevivência A cada prato que servem estão a encurtar a distância entre Portugal e Síria.

Porém, em Portugal tiveram necessidade de ter rendimento próprio e o facto de o fazerem em grupo também lhes dá uma confiança extra», adianta. A mãe Fátima, 48 anos, é a responsável pela cozinha. Perdeu o marido por causa de guerra e não conseguiu trazer o filho mais velho que vive na Turquia. «Agora estamos bem, instalados e com trabalho, só falta mesmo o meu irmão – que já tem um bebé pequeno – vir para cá e juntar a família para ficarmos completos», conta Rafat que se tornou o chefe de família cedo demais.

Cada uma das pessoas que trabalha no Mezze guarda uma história de sobrevivência, de perda e de saudade da terra. A cada prato que servem, a cada vez que alguém prova um sabor desconhecido, estão a encurtar a distância entre Portugal e Síria, através da comida. Haverá melhor maneira de o fazer?