Como educar as crianças para o otimismo?

Notícias Magazine

Texto de Ana Pago

O que é o otimismo?
Há quem diga que é a nossa capacidade em ver o copo mais cheio ou mais vazio. Depois, há quem nos diga que temos de esperar o melhor das coisas e olhar para elas de forma positiva. E há aqueles que nos aconselham a acreditar com muita força que as coisas boas virão. Só que o otimismo não é nada disto. Se fosse, era fácil: bastar-nos-ia ter uma postura inerte e tudo aconteceria na mesma. Um otimista é aquele que, tendo fé no futuro, acredita que todos os dias são uma nova oportunidade.

E que ele próprio saberá tornar esse dia numa nova oportunidade?
Com as suas ações e palavras, sim. Ser-se otimista é também uma escolha – e isso é determinante porque nos ajuda a encontrar pontos positivos numa experiência negativa e encará-la, por si só, como uma aprendizagem. Finalmente, acredito que o verdadeiro otimista tem um profundo conhecimento de si. Não vai cair em crenças sem fundamento, nem dar um passo maior do que a perna.

Todos nós nascemos com um certo nível de contentamento? Ou, pelo contrário, de tendência para a depressão?
Sabe-se hoje que a depressão é hereditária, por isso é válido dizer que nascemos com um certo nível de contentamento mais ou menos elevado. Contudo, não é isso que nos define e sim a nossa atitude, o nosso livre-arbítrio em relação ao que nos acontece. Sonja Lyubomirsky, que é uma das investigadoras mais proeminentes na área da felicidade e do otimismo, diz no seu livro The How of Happiness (Como Ser Feliz – A Receita Científica Para a Felicidade, ed. Pergaminho) que 50 por cento têm carga genética, são herdados. Há ainda 40 por cento de intenção/atitude, ou seja, todo um mundo a explorar, e apenas 10 por cento dependem das circunstâncias.

Pais otimistas, crianças felizes? Ou não é bem assim?
Não é necessariamente assim. Podemos não nascer otimistas e tornarmo-nos pessoas positivas, mas isso dependerá, como já disse, da sorte – de termos uns pais que nos ajudem a elevar-nos – e da nossa atitude. Está provado que se eu quero ser mais otimista e feliz, uma das atitudes urgentes a desenvolver é o sentido de gratidão. Vou aprender a olhar para as coisas por um outro prisma, a alargar a minha flexibilidade cognitiva. É importantíssimo para o crescimento humano.

Como se educa um filho para o otimismo quando os próprios pais se mostram bastante pessimistas a encarar a vida?
Os pais precisam, também eles, de alargar a sua flexibilidade cognitiva e tornarem-se atores principais da sua vida. O povo diz, e bem, que viver não custa, custa é saber viver, e um otimista é-o por escolha e decisão. Sublinho que não nascemos otimistas, mas temos tanta margem para aprender que seria uma pena se não o fizéssemos. Ainda assim, parece haver um ponto positivo em ser-se pessimista – pelo menos um bom pessimista, que é aquele que acha que tudo pode correr mal e, portanto, irá explorar todos os pontos de uma questão para que tal não aconteça. Pelo contrário um mau pessimista, se é que podemos usar esta expressão, nunca fará nada porque imagina à partida que vai correr mal.

Preocupamo-nos com a escola, os deveres, as atividades extracurriculares, e nem nos apercebemos de como uma boa dose de otimismo faz maravilhas pelas nossas crianças. O que não estamos a fazer enquanto educadores – e devíamos?
Estamos a focar-nos nas matérias e não no desenvolvimento das pessoas que temos em sala. Não olhamos para o potencial delas, o qual não se resume a letras e números, ainda que sejam uma parte importante. É urgente trabalharmos competências sociais e emocionais na escola – voltar atrás para apanhar o papel que deixámos cair, ou ajudar um aluno a integrar-se porque é novo – e podemos fazê-lo a todo o momento, não precisamos de uma disciplina específica para isso. Poderíamos trabalhar a capacidade de adaptação, dar mais autonomia aos miúdos para desenvolverem projetos da forma que entenderem. Se não complicarmos, estas soft skills são aprendidas – logo, também ensinadas – de forma quase subliminar. Tenhamos nós, gente grande, olho e atenção para o fazermos.

Há espaço para críticas também?
Por que razão não haveria? Confunde-se otimismo com facilidade e com a capacidade de se ver tudo pelo lado mais positivo, mas acontece que por vezes ele não existe. As críticas – ou observações, como prefiro chamar-lhes, a palavra «crítica» tem um tom muito negativo – são o inicio da resolução. Um otimista olha para a situação e pensa: «Bom, isto é o que é. Agora vamos lá ver o que podemos fazer para solucionar, prevenir, remediar.»

De que serve às crianças serem otimistas?
Diz que ficamos mais protegidos e vivemos mais tempo – há uma ligação entre a fortificação do sistema imunitário de um otimista e a prevenção de certas doenças, nomeadamente as coronárias. Temos mais amigos, melhores empregos, até mais dinheiro. Como assim, perguntam? Ninguém quer pessoas muito pessimistas no seu trabalho e os otimistas têm uma energia que contagia outros. Não têm medo de correr riscos nem de se aventurarem em novos projetos. E por isso vão crescendo no contexto laboral, eventualmente com uma remuneração superior. Ainda assim, um otimista é feliz com o que tem.

Existe o risco de se poder ser demasiado otimista?
Existe o risco de não se ser um verdadeiro otimista, como expliquei anteriormente. Então aí corremos o risco de dar frequentemente tiros nos pés.

E agora que já nos ensinou como criar filhos felizes, o que é que eles podem ensinar-nos também em matéria de confiança?
Temos sempre muita coisa a aprender uns com os outros: no caso dos miúdos, trazem-nos uma contínua capacidade de encanto pela vida. Estão no presente, vivem intensamente o momento. Neste ponto, lembro-me sempre da máxima carpe diem do filme O Clube dos Poetas Mortos, aquela expressão seize the day que significa aproveitar o dia como se não houvesse amanhã. As crianças têm a capacidade de passar rapidamente a outro assunto quando resolvem uma situação menos positiva.

 

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