A Minha Filha Embaixadora

A propósito da reportagem Catarina, a Diplomata, pedimos ao jornalista Joaquim Furtado que escrevesse um depoimento sobre o trabalho da filha como embaixadora da Boa Vontade das Nações Unidas. Sem perguntas traçadas, quisemos saber, por exemplo, o que sentiu quando recebeu o telefonema de Catarina Furtado, no meio do mar, numa lancha sem combustível a caminho de Bolama, para acompanhar o trabalho da AMI. A comovente carta que recebemos não podia ser cortada ou reproduzida parcialmente.
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Depoimento de Joaquim Furtado:

Pede-me a jornalista um testemunho «enquanto pai, sobre o trabalho da Catarina» e sobre o que sinto «ao vê-la defender as causas» que abraça. E, por exemplo, o que senti quando, em reportagem, me telefonou de um barco à deriva sem combustível. Pede-me para «expressar um sentimento» que imagina «grande, enquanto pai».

A jornalista pede-me, portanto, sentimentos, uma carta de amor. Seria diferente se o testemunho pedido não fosse «enquanto pai»?

Talvez não se pergunte ao pai que ama a sua filha, se se regozija com os seus êxitos profissionais em diversas áreas, com a exigência que põe no que faz, com o seu talento e a sua versatilidade. Se se congratula com a variante afectuosa do jornalismo cívico que pratica. Se se orgulha da sua índole dedicada a causas em que o sofrimento e a desigualdade afrontam a condição humana. Se se comove, vendo-a entregar-se ao que ele próprio defende sem ousar fazer. É claro que se congratula, se orgulha, se regozija e se comove. E não só por ser o pai que ama, mas por se achar capaz de ajuizar, fora dessa sua condição.

Talvez não se pergunte a um pai se sofre quando sabe que a sua filha corre perigo a bordo de uma lancha desgovernada (a milhares de quilómetros, algures em África), por um telefonema sobressaltado em busca de uma palavra sua. É claro que sofre – esforçando-se para que isso não transpareça – e que fica depois a rezar orações agnósticas. E que se emociona sempre que um momento vem evidenciar como está no coração da sua filha.

Por tudo isto, talvez estas perguntas se devam, afinal, fazer a um pai que, para além de amar a sua filha, a admira, se orgulha do seu trabalho, se congratula com a sua consciência social, se comove com a sua generosidade pessoal, até com a sua beleza, soma de tudo no seu rosto feliz e inquieto. Como não aplaudi-la (sem que se ufane a ponto de não criticar se a crítica não for um elogio)? Não por ser pai mas também por sê-lo, julgando encontrar-se a si próprio numa construção cujos princípios são também os seus.

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Leia aqui a reportagem completa: Catarina, a Diplomata.