Jack, o pirata das estradas

Texto de Pedro Junceiro

Não há qualquer tipo de confusão. O Jack foi mesmo o nosso «guia» na mais recente experiência de condução autónoma levada a cabo pela Audi em Munique. Mas apresente-se melhor este «rapaz» de ascendência germânica.

Jack é o nome que a marca deu ao seu A7 Piloted Drive Concept, um protótipo de desenvolvimento dos sistemas de condução autónoma que leva já milhares de quilómetros nas rodas num progresso contínuo que terá como primeiro resultado prático a aplicação de uma versão simplificada deste sistema no novíssimo Audi A8.

Imune a emoções e a estados de espírito, Jack executa de forma fria e calculista as suas manobras.

Trata-se de um modelo com autonomia de nível 3 (existem seis), ou seja, com capacidades para gerir a direção, a aceleração e a travagem de forma completamente independente e sem necessitar da atuação do condutor humano durante largos períodos de tempo. Imune a emoções e a estados de espírito, Jack executa de forma fria e calculista as suas manobras, procurando mostrar as vantagens da condução «sem mãos» em termos de segurança e de eficácia. Por um lado, reduzem-se os engarrafamentos e, por outro, melhoram os consumos (ou autonomia, no caso dos elétricos).

UM «TIPO» QUASE NORMAL
Exteriormente, mal se dá conta de todos os elementos vitais para o desempenho dos sistemas, como os sensores laser, escondidos na parte inferior dos para-choques, ou das câmaras posicionadas no para-brisas e nos espelhos retrovisores. Não fossem os autocolantes e o Audi A7 deste teste passava discretamente sem atrair muitas atenções.

Pelo menos, até que os outros condutores reparassem no volante a mexer sozinho enquanto o condutor olha para trás. No interior, porém, há diferenças mais significativas, como o pequeno ecrã de estado do veículo na consola central (abaixo do maior dedicado ao sistema de infoentretenimento) e uma panóplia de interruptores (na zona usualmente dedicada ao cinzeiro) que o instrutor que nos acompanha vai manuseando.

Na bagageira, outra diferença e das grandes. A mala está ocupada quase integralmente pelos supercomputadores, cabos e módulos de refrigeração para uma unidade com oito gigas de memória RAM. Gerir tanta informação e estímulos externos não é pera doce. A controlar esta autêntica revolução das máquinas está uma unidade de controlo a que a marca aplicou o nome de zFAS. Ao contrário do A7, porém, os elementos tecnológicos do sistema de condução pilotada do futuro A8 caberão numa pequena caixa do tamanho de um PC portátil.

NAS «MÃOS» DE JACK
O Jack nem sempre atua de forma isolada. Antes do arranque, o sistema de navegação – específico para este modelo – mostra quanto do percurso definido poderá ser feito em modo autónomo. Até lá chegar, o humano assume o controlo das operações e conduz como um carro comum.

Só ao chegar ao troço da autoestrada A9 entre Munique e Nuremberga – que foi definido pelo estado bávaro como local apropriado de testes com autónomos (tendo infraestruturas já criadas para a comunicação futura «car-to-x») – é que somos alertados para a possibilidade de ativar o modo autónomo, através de indicações na instrumentação e por uma faixa LED a todo o comprimento do tablier. É aí que confiamos a vida às «mãos» virtuais do Audi.

Mas, nesta experiência com o Audi A7 Piloted Drive, nunca houve receio enquanto o Jack estava aos comandos. Para o futuro mais próximo, a Audi prevê a aplicação da tecnologia de condução autónoma no A8, embora de forma simplificada.

Pressionando simultaneamente dois botões na parte inferior do volante, o Jack passa a ser um «agente autónomo» na autoestrada, gerindo a velocidade, a distância ao centímetro para todos os veículos em seu redor, mas também mudando de faixa quando necessário. Tal não acontece por acaso: o sistema de controlo efetua uma multiplicidade de cálculos para averiguar a vantagem de mudar de via. Uma das competências sociais do Jack é a de interagir com os outros condutores e de nunca ultrapassar pela direita. O volante e o banco recolhem e o condutor transforma-se em passageiro.

Funcionando até aos 130 km/h, o Jack procura sempre viajar à velocidade máxima limite, desde que a estrada esteja desimpedida. As ultrapassagens decorrem com estranha fluidez, ativando-se o indicador de mudança de direção e depois seguindo para a via do lado, guardando até maior distância lateral no caso de ultrapassar um camião. Inteligente este Jack. Zonas de obras condicionam a sua atuação (levando à desativação do sistema), o mesmo se aplicando a condições climáticas muito más, com o instrutor a indicar que é necessária uma visibilidade semelhante à da visão humana.

Há muito caminho a percorrer até que possamos ir de um ponto a outro do país sem prestar atenção à estrada. Mas, nesta experiência com o Audi A7 Piloted Drive, nunca houve receio enquanto o Jack estava aos comandos. Para o futuro mais próximo, a Audi prevê a aplicação da tecnologia de condução autónoma no A8, embora de forma simplificada. Nesse modelo, o controlo nas autoestradas é assegurado até aos 60 km/h, dispensando a intervenção do condutor em filas de trânsito. Um futuro que parece tornar o condutor cada vez mais dispensável.