A morte desta mulher é uma história mal contada

Notícias Magazine

Texto de Catarina Fernandes Martins

Kim Wall foi vista pela última vez a embarcar no submarino do inventor Peter Madsen, sobre quem a sueca estava a preparar um perfil jornalístico. O namorado de Kim Wall deu conta do seu desaparecimento na madrugada de dia 11.

O submarino artesanal de Peter Madsen não estava equipado com um sistema de GPS pelo que levou muitas horas até ter sido encontrado. Nesse momento, as forças de resgate conseguiram contactar o dinamarquês. Meia hora depois, o submarino afundou e Madsen foi resgatado.

O submarino artesanal de Peter Madsen não estava equipado com sistema de GPS, pelo que levou muitas horas até ter sido encontrado. Nesse momento, as forças de resgate conseguiram contactar o dinamarquês, a bordo do submarino. Meia hora depois, a embarcação afundou e Madsen foi resgatado. O submarino já foi recuperado e as autoridades encontraram sangue no interior. Nesse momento, Madsen disse que na noite de 10 de agosto deixou Kim Wall no porto de Copenhaga. Mais tarde contou às autoridades outra história – tinha havido um acidente no submarino que provocou a morte da jornalista sueca. Por isso mesmo, Madsen disse ter “enterrado” Kim Wall no fundo do mar.

A polícia de Copenhaga disse no dia 14 de agosto que o submarino afundou na sequência de um ato deliberado. Durante mais de dez dias, ignorou-se o paradeiro de Kim Wall.

Se inicialmente se pensou que Peter Madsen era vítima de um acidente com o seu submarino, atualmente está sob suspeita. Foi detido preventivamente esta segunda-feira.

O que aconteceu a Kim Wall?

Peter Madsen disse que um acidente a bordo do submarino provocou a morte de Kim Wall, cujo corpo deitou depois ao mar. Não se sabe ainda que acidente foi esse ou o que aconteceu nos momentos que antecederam a sua morte.

“Foi encontrado um torso deliberadamente mutilado, sem braços, pernas e cabeça,” anunciou a polícia de Copenhaga no dia 21 de agosto, depois de um ciclista ter dado o aviso. Dois dias depois, as autoridades anunciaram que o ADN do corpo correspondia ao da jornalista desaparecida.

O corpo sofreu a pressão de um metal para permitir que se afundasse. A advogada de Peter Madsen, Betina Hald Engmark, disse que o dinamarquês não confessa o crime. “A correspondência de ADN não altera a explicação do meu cliente sobre o acidente,” disse.

Antes do desaparecimento de Kim Wall, Peter Madsen era uma figura algo conhecida na Dinamarca – pela sua excentricidade e pelos projetos ambiciosos em que se envolvia. Na sua página da Wikipedia, é descrito como um engenheiro aeroespacial autodidata, um artista e construtor de submarinos.

Madsen orgulhava-se particularmente de ter construído o UC3 Nautilus, que garante ser o maior submarino do mundo de construção artesanal. Foi esse o submarino que Kim Wall visitou antes de desaparecer.

Ingrid Wall, a mãe de Kim Wall, escreveu sobre a morte da filha esta quarta-feira no Facebook. “Não conseguimos ainda compreender a dimensão desta catástrofe. Há muitas perguntas que precisam de resposta,” pode ler-se na publicação.

A questão central que não está respondida é esta: o que aconteceu a Kim Wall entre o momento que embarcou no submarino e a altura em que Peter Madsen deitou o seu corpo ao mar?

A polícia de Copenhaga pediu a pessoas que tenham viajado com Peter Madsen antes do incidente para explicarem o que acontecia nessas viagens.

Quem era a jornalista?

Kim Wall nasceu há 30 anos em Malmo, na Suécia, mas há anos que vivia fora do país de origem. Wall estudou Relações Internacionais na London School of Economics e fez o mestrado em Jornalismo e Relações Internacionais na Universidade de Columbia, em Nova Iorque.

Durante a sua curta carreira fez reportagem a partir da Coreia do Norte, Cuba, Sri Lanka, Uganda, e Haiti e as suas histórias foram publicados pelo New York Times, Guardian, Vice e South China Morning Post.

Desde março de 2016, Kim vivia entre Nova Iorque e Pequim e planeava mudar-se para a capital chinesa com o namorado ainda durante este mês de agosto.

Entre os colegas e amigos, Kim Wall era conhecida pelo espírito aventureiro e por um olhar especial que encontrava histórias originais e fora do radar dos media tradicionais. Histórias que a levaram a todo o mundo. Como ela própria se descrevia na conta de Twitter, Kim interessava-se por “hackers, vampiros, vodu, Chinatowns, bombas atómicas e feminismo.”

Como jornalista freelancer, Kim viajava geralmente financiada por bolsas de organizações internacionais e trabalhava em equipa para poupar custos.

A diretora executiva da International Women Media Fund uma dessas organizações, Nadine Ellen, disse à Notícias Magazine que a organização “está de luto” pelo “silenciamento” de um elemento da comunidade. “A Kim era uma contadora de histórias talentosa que nos encantou a todos com as suas bonitas reportagens que tantas vezes eram sobre temas fora do radar. A morte de Kim está a ter um efeito devastador na comunidade global de mulheres jornalistas que apoiamos,” disse.

Leia aqui o relato da jornalista CATARINA FERNANDES MARTINS sobre a morte de Kim Wall e como isso está a afetar toda uma comunidade de mulheres jornalistas freelancers.