O futuro da independência em casa pode estar num aspirador

Notícias Magazine

Texto Ana Rita Guerra, em Boston

Melissa O’Dea pega no smartphone, abre uma aplicação e carrega num botão virtual gigante que diz «limpar». No canto da sala, um robô redondo recebe a instrução digital, sai da base e começa a aspirar. Melissa olha de forma triunfante e mostra o plano de uma casa na aplicação. «Foi aqui que o meu aspirador andou ontem.»

A app é a Home e o aspirador é o Roomba 980. Melissa é gestora de produto da marca e mostra as novas funcionalidades do aparelho na sede do fabricante, a iRobot, em Boston, EUA, onde toda esta revolução da robótica de consumo começou.

aspirador Roomba
Colin Angle é o fundador da iRobot, que criou o aspirador Roomba.

Aspiradores não estavam na mente de Colin Angle quando fundou a empresa, em 1990. Depois de incursões por robôs para exploração espacial, dinossauros, robôs industriais e até a primeira boneca robótica para o fabricante de brinquedos Hasbro, a iRobot encontrou o sucesso comercial com o Roomba. Colin Angle, Helen Greiner e Rodney Brooks levaram 12 anos a chegar lá.

Agora, com vinte milhões de Roombas vendidos, a empresa olha para o que a próxima geração de aspiradores pode fazer para ajudar as pessoas a viverem sozinhas na velhice. «A faixa etária mais velha quer manter-se independente até mais tarde» diz o CEO Angle, sentado no seu gabinete em Boston. Se puderem tomar conta de si próprios e a tecnologia puder ajudá-los, serão muito recetivos a esse tipo de cuidados.»

Para entender como um aspirador se relaciona com cuidados seniores, é preciso olhar para as versões mais recentes da Roomba. Os modelos da série 900 (960 e 980) trazem iAdapt Localization Camera, que utiliza localização visual para construir um mapa da casa inteira.

Este mapa identifica as várias divisões, tipos de pavimento e onde estão localizados objetos como sofás e cadeiras. O objetivo é garantir que o aspirador vai a todos os cantos e o consumidor consegue controlar a sua operação.

«Os robôs saberem onde as coisas estão dentro de casa significa que podem operar num nível de inteligência completamente diferente», diz Angle.

A iAdapt não grava vídeo nem tira fotografias, mas envia o mapa para a aplicação Home, aquela que Melissa mostrou, para que o consumidor possa ver onde o aspirador limpou. A app também serve para programar remotamente o Roomba, que tem conetividade Wi-Fi. O resultado de tudo isto? O robô, que tem uma componente de aprendizagem de máquina integrada, consegue situar-se dentro da casa.

«Os robôs saberem onde as coisas estão dentro de casa significa que podem operar num nível de inteligência completamente diferente», diz Angle. «A minha esperança é que isso leve a novas aplicações.»

É nisso que a iRobot está a trabalhar. O diretor de tecnologia da empresa, Chris Jones, explica que o primeiro passo é construir uma grande base instalada de robôs conetados à internet por todo o mundo, e é por isso que, neste momento, todos os aspiradores já trazem Wi-Fi. O segundo é constituir parcerias com outras empresas que fornecem produtos e serviços para a casa inteligente. E essas empresas podem integrar-se num ecossistema baseado nos mapas criados pela Roomba para poderem prestar serviços ligados ao posicionamento das coisas no mundo real.

aspirador Roomba

Por exemplo, uma pessoa pode pedir ao robô que vá buscar os seus óculos à mesinha-de-cabeceira, ou os medicamentos ao balcão da cozinha. O ar condicionado pode ajustar-se numa parte da casa se receber a informação de que as janelas estão abertas. Que outro eletrodoméstico consegue conhecer rigorosamente a planta da casa e onde estão as coisas em cada divisão senão um robô que aspira o chão munido de uma câmara com processamento visual?

«Isto tudo irá permitir o advento da casa inteligente», diz Colin Angle. No seu entendimento, uma casa não é inteligente só porque o consumidor pode sacar de um telemóvel e ligar as luzes ou o ar condicionado antes de chegar. É uma casa que percebe o que se está a passar para tomar a decisão correta. «Se todos os interruptores que tenho em casa puderem ser controlados com o smartphone, ainda tenho de pegar nele para controlar cada lâmpada, uma a uma. Mas se eu entrar e as luzes se acendem, saio e apagam-se, é fácil e útil.»

«Temos de criar casas que permitam às pessoas viverem sozinhas durante mais anos», diz o CEO, explicando a sua visão. «É o desafio dos cuidados com os seniores.»

«Temos de criar casas que permitam às pessoas viverem sozinhas durante mais anos», diz o CEO, explicando a sua visão. «É o desafio dos cuidados com os seniores. Estamos a envelhecer e não temos um número suficiente de jovens para cuidar dos mais velhos – muitos nem sequer o querem, porque os valores mudaram e as pessoas não são educadas da mesma forma.»

O Roomba tem agora integração com os altifalantes e assistentes inteligentes da Amazon (Echo/Alexa) e da Google (Home/ Assistant) e pretende conversar com outras empresas do mesmo tipo. «A casa inteligente tem sido uma promessa falhada ao consumidor», diz o diretor de tecnologia. «O consumidor pode comprar estes produtos, mas não tem um ecossistema que lhe permita ter uma casa inteligente, que se orquestra a si própria.»

Claro que a visão de Angle gera controvérsia. Numa era em que os dados dos utilizadores são vendidos e passados de empresa para empresa e a privacidade é cada vez menor, a ideia de partilhar mapas 3D da casa com terceiros parece terrível. Mas Chris Jones dissipa os receios, garantindo que o consumidor terá de querer que os mapas sejam usados. «Vamos trabalhar para fazer as coisas com o consentimento do consumidor.»

«Alguém tem de ligar o mundo físico e o digital, e é nesse espaço de longo prazo que a iRobot está a desenvolver tecnologia e capacidades.»

Para o CEO, a preocupação é com o tempo. As coisas parecem demorar muito mais do que esperaríamos. É algo que vários executivos da iRobot sublinham: apesar de a Roomba dominar claramente este mercado – com 90% de quota nos EUA e acima de 70% na Europa – trata-se de uma penetração baixa em relação ao número total de lares e de aspiradores comprados e usados todos os dias no mundo – cada aspirador destes começa nos 280 euros e pode chegar aos mil.

«A ideia será criar diferentes tipos de robôs e sistemas, fazer parcerias com empresas para ter um ecossistema tecnológico, porque não será uma empresa a fazer tudo», analisa, referindo-se à ideia de casa inteligente. «Alguém tem de ligar o mundo físico e o digital, e é nesse espaço de longo prazo que a iRobot está a desenvolver tecnologia e capacidades.» O especialista não acredita num robô tipo mordomo. Isso é ficção científica. Aqui, falam de realidade. E do futuro.

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