Exercícios pélvicos também são coisa de homens

exercícios pélvicos

Texto NM | Fotografia Shutterstock

É o maior pesadelo de qualquer grávida: poder ficar incontinente, ao fim de nove meses a rebentar pelas costuras, por não ter trabalhado convenientemente o pavimento pélvico. Torna-se quase um mantra repetido até à exaustão: treinar o pavimento pélvico, treinar o pavimento pélvico. E se antes se pensava que isto era só coisa de mulheres (ainda por cima com as hormonas aos saltos), dados científicos vêm agora demonstrar que também os homens têm tudo a ganhar em treinar os seus. Sim, porque eles também têm pavimento pélvico. E também sofrerão as consequências de não o muscularem em tempo útil.

Mas vamos por partes. Segundo um estudo da especialista em gerontologia Alayne Markland, da Universidade do Alabama em Birmingham, EUA, a prevalência de incontinência urinária moderada a severa «tende a aumentar de 0,7 por cento em homens entre os 20 e os 34 anos, para 16 por cento nos homens a partir dos 75 anos», muitas vezes associada a outros transtornos como depressões ou hipertensão.

A partir dos 50 anos soam campainhas: metade dos homens terá algum problema de próstata, já para não falar de dificuldades relacionadas com a sua sexualidade.

Outro estudo da mesma autora, divulgado no The Journal of Urology, indica que homens que bebem muito café também demonstram maior risco de desenvolver incontinência urinária: 234 miligramas ou mais de cafeína por dia traduzem-se numa maior probabilidade (72 por cento) de ter incontinência urinária moderada ou grave; homens que consomem mais de 392 miligramas/dia dobram essas probabilidades. A cafeína afeta o sistema geniturinário ao aumentar a pressão sobre os rins e bexiga, ao mesmo tempo que reduz a absorção de água e sódio.

E as preocupações não se ficam por aqui. A avaliar pelo que dizem os médicos, a partir dos 30 anos a área da próstata que circunda a uretra começa a sofrer um crescimento (hipertrofia benigna da próstata ou hiperplasia benigna da próstata, consoante aumente o tamanho ou o número das células), facto que pode obstruir a uretra e dificultar a micção.

As boas notícias são que os exercícios Kegel fazem maravilhas. E não só pelas grávidas.

A partir dos 50 anos, então, soam campainhas: várias pesquisas concluem que 50 por cento dos homens terão algum problema de próstata, já para não falar de dificuldades relacionadas com a sua sexualidade – sobretudo ao nível da ereção, orgasmo e ejaculação precoce, capaz de surgir em qualquer idade sem que se tenha problemas de próstata.

Finalmente, as boas notícias chegam-nos de investigadores da universidade italiana La Sapienza, em Roma, que garantem que 12 semanas a praticar os exercícios Kegel – os mesmos, sem tirar nem pôr, receitados às grávidas para fortalecerem os músculos da bexiga – fizeram com que os homens aumentassem o seu tempo de ejaculação de 31 segundos iniciais para 246 segundos. Isto, além de passarem a ter ereções mais fáceis, fortes e duradouras, e controlarem o momento exato da ejaculação.

Concebidos na década de 1940 pelo ginecologista norte-americano Arnold Kegel, os exercícios Kegel destinam-se a muscular o pavimento pélvico e assegurar que o esfíncter urinário é suficientemente forte para evitar perdas de urina, muito comuns em mulheres que dão à luz. São poderosos, indolores, ao alcance de qualquer pessoa. Com a enorme vantagem de ninguém perceber que estamos a fazê-los, pelo que podem ser executados até enquanto trabalhamos.

Depois de identificar o grupo certo de músculos a trabalhar – pense que está a urinar e quer interromper o fluxo para saber quais são –, a ideia é contraí-los em séries de 20 ou 30 contrações, repetindo três a quatro vezes ao dia (as pernas, nádegas e abdómen permanecem descontraídos). Outra opção é contrair o pavimento pélvico todo de uma vez, sustendo até não conseguir aguentar mais. Muito melhores do que bolas chinesas e bem mais discretos…