Está na altura de a escola crescer

Notícias Magazine

Nunca vi uma criança tão feliz por ir para a escola como a minha filha, quando entrou para o 1º ano. Eu desfeita em lágrimas e ela, concentrada, de mochila às costas, sem olhar para trás. Fui eu que cortei o cordão umbilical quando ela nasceu. E parece que, apesar de míope e sem as lentes de contacto, cortei bem, embora na minha cabeça ele tenha ficado intacto. A Rita vai agora para o 5º ano, para a escola grande, e não podia estar mais feliz. Continua a não olhar para trás.

Gosta da escola. Acha que aprende lá muita coisa. E que agora vai aprender ainda mais, porque vai ter mais disciplinas e mais professores e mais amigas e mais amigos e mais intervalos. Descansa-me que pense assim. Não delego na escola a tarefa de educar nem de ensinar tudo o que há para aprender. Como os meus pais não delegaram.

A minha escola era parecida com a da Rita. Pública. Aprendi (mais ou menos) as mesmas coisas, da mesma maneira. Na verdade, e isso é um pouco desconcertante, o ensino em Portugal não evoluiu muito em trinta e tal anos. E, no entanto, aqui estou eu, filha da escola pública, a escrever esta crónica, com o suficiente pensamento crítico para dizer que preferia uma escola diferente. Não me entendam mal. Não sou ingrata. Defendo-a com unhas e dentes. E é por isso que queria que também ela, a escola, crescesse, não olhasse para trás e fosse mais feliz.

Que se deixasse de rankings e de quadros de honra com cheiro a bafio e de turmas em que se juntam os melhores alunos e os melhores professores a trabalhar para os resultados, enquanto outras acumulam quase trinta miúdos. Talvez assim não fosse sequer cogitável para os pais engendrarem esquemas de moradas e encarregados de educação falsos.

Não sou especialista em pedagogia, por isso não vou discutir modelos de ensino, matérias dadas (e a extensão das mesmas) e competências trabalhadas, embora desconfie que já é tempo de os questionar. Quanto ao tão ansiado (e tão pouco estimulado) pensamento crítico, é óbvio que tem de ser desenvolvido na escola, mas também fora dela (isto é para os pais).

O que quero discutir, porque é isso que me deixa os nervos em franja, é a razão pela qual a escola pública não tenha, 43 anos passados sobre o 25 de Abril, conseguido ainda garantir um ensino igual para todos. É que, na minha cabeça, a escola deve ser o principal instrumento de criação de igualdade de oportunidades e justiça social. E não tem sido. Alguém me explica porquê?

P.S. – Há seis ou sete anos, fui fazer uma reportagem à Finlândia, na altura o país com melhores resultados no PISA, o programa internacional de avaliação de alunos promovido pela OCDE, e o melhor sistema de ensino do mundo. Não havia escolas privadas, nem rankings, nem avaliação de professores, nem exames. O modelo adotado garantia que todos os alunos tinham acesso à mesma educação, com mecanismos pensados para «apagar» quaisquer diferenças, sobretudo as socioeconómicas. Não sei qual é a situação agora. Mas não deve ser muito diferente. Talvez o ministro da Educação possa lá ir fazer uma visita de estudo.