Escusam de tentar, não deixo de gostar de futebol

Notícias Magazine

25 de maio de 1988, o dia em que guardei na memória o meu primeiro jogo de futebol – a final da Liga dos Campeões entre Benfica e PSV, a tal que só o falhanço do capitão, Veloso, decidiu.

Também me lembro da primeira vez que fui ao Estádio da Luz – o último jogo da época 1993-94, com o meu pai, para ver a festa do título nacional, um glorioso empate frente ao Guimarães.

Como me lembro da última vez em que celebrei, com tudo, um título de futebol. E se deduzo que a minha cor, de papoila saltitante, já tenha transparecido, a verdade é que não foi o tetra que mais me fez saltar. Foi o Eder. Estranho? E se o meu jogador favorito for um dos capitães do Sporting?

Adenso o caos. Tenho amigos sportinguistas e portistas e mesmo que lhes chame lagartos e tripeiros não nos zangamos. Nem quando (com razão) me acusam de ser lampião de Carnide. E nem assim é fácil gostar de futebol em Portugal.

Em campo, os espetáculos são paupérrimos. É fazer as contas: nos doze primeiros jogos dos três grandes na Liga dos Campeões, conseguimos três vitórias – o único resultado de registo foi o empate do Sporting contra a Juventus – e o campeão nacional até conseguiu ser goleado por um clube suíço. Pobre? Evidentemente, mas bem acima do nível fora de campo. Esse é miserável.

Por cá, não discutimos se o Pizzi precisa de uma máquina de recuperação física, se o William Carvalho devia ou não perceber o conceito de sprint ou se a garra do Porto é sustentável até final da época. Discutimos os e-mails no Benfica, as comissões nas transferências do Sporting e a sombra do Apito Dourado sobre o Porto.

Na televisão, os discursos são impercetíveis, com códigos de linguagem de próprios, poucas regras de conduta e um único propósito: disfarçar a inaptidão da equipa com obscuros poderes dos rivais.

Comigo falham. Sei que são mancos e vou continuar de televisão desligada, à espera de que os meus mancos prediletos recuperem e até que Sir William – desculpem, mas não lhe chamo outra coisa – venha dar uma ajuda ao meu querido carnide.

Os meus amigos, lagartos e tripeiros, dizem que sou maluco. Gostam todos do Fejsa. São malucos também, mas todos bem conhecedores do clássico dos Skank – «que coisa linda é uma partida de futebol». O resto não interessa nada, só envergonha.

SKANK
Samba Poconé (1996)
19 euros (Amazon)

A MINHA ESCOLHA

SARA TAVARES
Fitxadu
12,99 euros

ENTRE CABO VERDE E LISBOA

Apresentou-se como estrela sem mais ter feito do que vencer um concurso televisivo.
Cansou-se da estrada, das digressões e de não ter tempo. Adoeceu e recuperou para pôr fim a um intervalo de oito anos sem discos de originais. Agora, com 39 anos, Sara Tavares aparece com Fitxadu e, mais do que isso, com uma música e voz que nunca soaram tão suas.

Em pequena queria ser como Whitney Houston, ganhou a primeira edição do Chuva de Estrelas, seguiu para o Festival da Eurovisão, mas nunca se mostrou verdadeiramente à vontade na pele que vestia em público. E foi o passar dos anos, discos mais ou menos discretos, colaborações mais ou menos de sucesso que a trouxeram a Fitxadu.

O resultado faz justiça a quem defende uma carreira com mais de 20 anos e surpreende. Ouve-se Cabo Verde e Lisboa, ouve-se música africana e sente-se Lisboa, ouvem-se batidas a apelar aos passos de dança, outras que convidam ao elevar do volume num espaço recatado.

Em Fitxadu, Sara Tavares mata-nos as saudades, junta-se à lista dos melhores discos nacionais do ano e ainda nos abre o apetite para o que virá a seguir. Oito anos depois, o talento não desapareceu e Sara Tavares confirma que, seja pop, soul ou mornas, pode cantar o que lhe apetecer. E quanto mais confortável melhor.