As vantagens do «Do It Yourself»

Texto de Sofia Teixeira | Fotografia de Shutterstock

A tendência

Blogues, sites, canais do YouTube e redes sociais mostram-nos constantemente como podemos redecorar a casa e o jardim, reaproveitar objetos que já não usamos, personalizar as próprias roupas, pegar em coisas velhas e fazer delas coisas novas, fazer presentes para oferecer no Natal. Há quem odeie tudo o que implica bricolage, costura e trabalhos manuais, mas também há quem tenha transformado o Do It Yourself (DIY) numa filosofia de vida que, no fundo, recupera uma das práticas mais antigas do mundo: colocarmos as mãos na massa para adaptar o mundo às nossas necessidades, sem recorrer a terceiros. A industrialização, os serviços e as especializações tornaram-nos, com o tempo, produtores de apenas uma coisa (aquela que é a nossa área de especialização profissional) e consumidores de todas as outras. Mas o DIY quer contrariar isso.

Efeito Ikea

O economista comportamental Dan Ariely e colegas da Harvard Business School publicaram, em 2011 e 2012, uma série de estudos que mostra que gostamos mais das coisas que somos nós a fazer. Chamaram-lhe «o efeito Ikea», por causa dos móveis da cadeia sueca que são montados por nós em casa. Os investigadores concluíram que, além da democratização do design a baixo custo, o trabalho e desgaste que temos com uma coisa é proporcional à satisfação que ela nos dá depois de concluída. Resumindo: o esforço e o envolvimento no processo de criação ou construção geram um amor pelas coisas que nos faz sobrevalorizar o seu valor de mercado.

Combate ao desperdício

A sustentabilidade do nosso modo de vida é uma das bandeiras atuais, em que se valoriza o consumo responsável e o combate ao desperdício. O DIY é um dos caminhos para pôr isso tudo em prática. Ao reaproveitar objetos produzimos menos lixo e evitamos a compra de novos objetos que, para serem feitos, poluíram o ambiente. Por outro lado, ao comprar produtos DIY – em feiras de artesanato, por exemplo, estimulamos a produção local, artesanal e em pequena escala, que tem um impacte mais baixo no ambiente e produz riqueza entre os pequenos produtores.

Ode ao individualismo

Quantas vezes foi às compras à procura de uma peça de roupa que idealizou, mas que não consegue encontrar? Quantas vezes teve dificuldade em achar o casaco verde que queria porque nesse outono a tendência era o amarelo? Quantas vezes se cruzou na rua com pessoas com peças iguais às que tem no roupeiro? Ou vestidas… Numa altura em que compramos em cadeias de roupa globais, que produzem milhares de peças iguais, ser original pode ser um desafio, mas como o DIY é fácil. Uma banal T-shirt branca pode ganhar outra graça e tornar-se uma peça única com uma aplicação simples de rendas, restos de tecidos, tachas, botões ou tingida em casa com tintas próprias, e quem se ajeite com a costura deixa de estar dependente do que as lojas têm para oferecer.

Resgatar o passado

Um móvel que estava na entrada da casa dos avós pode ser recuperado e fazer parte da decoração da nossa sala. Aquele casaco com um bom tecido que era da mãe pode ser apertado, cortado para mudar o feitio e usado por nós neste inverno. Há objetos e roupa que fazem parte das nossas memórias de infância que podem ganhar uma nova vida e continuar presentes no nosso dia-a-dia depois de transformados, adaptados ou restaurados. O DIY é também uma forma de trazer para o presente as recordações de pessoas e espaços que nos são queridos.

Poupar uns trocos

Quase sempre reutilizar, restaurar e adaptar sai mais barato do que comprar novo. Com meia dúzia de euros em materiais e algum tempo é possível poupar centenas ou milhares de euros. Apertar umas calças sai mais barato do que comprar umas novas, usar washi tape para criar um padrão numa parede é menos caro do que comprar e mandar aplicar papel de parede, restaurar um móvel é mais barato do que comprar um novo. Há vários blogues e tutoriais no YouTube que ensinam a fazer tudo isto sem ter de recorrer a um profissional.

E tem um efeito terapêutico

Tudo o que são trabalhos manuais e bricolage representam um momento para parar, passar o foco para uma atividade concreta em que se retira prazer ao criar e dão a satisfação de ver nascer um novo objeto criado pelas nossas próprias mãos. E isso pode ser terapêutico. Os hobbies, mostram vários estudos, são verdadeiros ansiolíticos, quer pelo prazer que se retira da tarefa quer porque nos fazem abrandar o ritmo do dia-a-dia e criar um espaço e tempo de lazer. É também uma ocupação que estimula a criatividade.