Dia da Mulher: mudem-lhe o nome e vão ver que se acabam logo as piadas parvas

Como um grande equívoco em torno de uma data que continua a fazer sentido pode tirar força – e voz – a milhões de mulheres no mundo inteiro que ainda lutam por direitos iguais. E não deviam lutar sozinhas. A opinião de Paulo Farinha.

Por cada flor oferecida à saída do metro ou à entrada do trabalho a propósito do Dia da Mulher, por cada “Parabéns pelo nosso dia”, por cada frase “hoje é o teu dia, aproveita”, por cada campanha de saldos com este gancho (“gancho” é palavreado de jornalista, significa motivo/razão/pretexto para publicar ou fazer alguma coisa), por cada spa que faz uma promoção e distribui flyers ou voucheres ou o raio que parta com promoções e descontos para massagens nos pés para usufruir neste dia, por cada marido ou namorado que oferece um presente, porque sabe que deve fazê-lo no Natal, no dia de aniversário dela, no dia de aniversário da relação, no Dia dos Namorados e, claro, no Dia da Mulher, por cada menção à data feita de forma mecânica, como quem celebra uma festa, há duas andorinhas que se matam, quatro golfinhos que não se reproduzem e muitas, muitas mulheres que continuam a ficar esquecidas.

Talvez se lhe chamassem “Dia Internacional de Defesa dos Direitos Básicos e Naturais das Mulheres, para que não Fiquem Esquecidos”, a coisa pegasse melhor. Mas assim, com este nome, apenas “Dia da Mulher”, a data presta-se a uma série de equívocos. E a uma série de piadas parvas. Tolinhas. Como aquela do StandVirtual (ver imagens em cima). Que até podia ter graça em qualquer dos outros dias do ano, seja aplicada a mulheres ou a homens, mas não neste dia. Não hoje. Nesta data, é apenas de mau gosto. É um “gancho” mal escolhido. Um idiota tiro no pé.

O dia não existe para lembrar o quão maravilhosas as mulheres são, o quão afortunados são os maridos e namorados por as terem ao lado, o quão bem devem ser tratadas (isso é óbvio, raios). O dia existe para lembrar que há direitos que não estão conquistados e que todos – mesmo todos, até os que oferecem flores – deviam alertar para a desigualdade e fazer alguma coisa para a combater. Nem que seja em casa.