Como vai acabar A Guerra Dos Tronos?

Entrevista de João Tomé, em Londres

A muito aguardada sétima temporada do maior fenómeno audiovisual do planeta arranca finalmente amanhã, com apenas sete episódios. Dentro de uns anos, talvez deixemos de comparar A Guerra dos Tronos com a trilogia de O Senhor dos Anéis. A história do clã Stark arrisca-se a superar o sucesso da adaptação cinematográfica da obra-prima de Tolkien.

Não nos podem dizer nada da temporada 7? Só sabemos que participam nela.
Isaac Hempstead Wright (IHW): Sim, é por aí [risos].

Tem uma experiência imensa nesta série, tantas as histórias e personagens com que se cruzou. Como foi esta evolução como pessoa e como ator?
IHW: Eu comecei com 10 anos. Metade da minha vida tem sido a viver neste mundo, uma escola de verão de fantasia medieval. Quando comecei não pensei bem no que me estava meter. Divertia-me, gostava e à medida que cresci percebi que isto tem sido o processo mais estranho, invulgar e incrível de que podia fazer parte. E percebi que aquilo que via como rotina divertida é um privilégio. E agora é um sentimento ambíguo, pensar que vai chegar o final.
Aidan Gillen (AG): É fascinante ver atores como o Isaac, a Maisie e a Sofia [os irmãos Stark, que começaram bem novos na série] crescer nas rodagens. Vemo-nos durante alguns meses no ano. O facto de se ter tornado num fenómeno popular e de eu fazer parte dele agrada-me, claro. E há tantas pessoas que investem na história e no que se vai passar a seguir e fala-se da série em todo o mundo. É estranho, porque já sou ator há muitos anos e nunca vi nada assim, nesta escala. Quando terminar, dentro de um ano, vou sentir-me feliz por ter participado, mas vou sobreviver à série.

Isaac, quando soube, na primeira temporada, que tinha de permanecer o resto dos episódios de cama por ter ficado paraplégico, ficou chateado?
IHW: Até fiquei contente por me pagarem para ficar na cama [risos]. Estou a brincar. A história, ou o arco, do Bran [Stark] é fascinante. Logo nesse primeiro episódio somos introduzidos para o ethos da série de imediato, não há problema em atirar um miúdo da janela após assistir a incesto. O que é interessante é que o Bran perdeu mais do que as pernas, perdeu a família, porque todos saíram sem o poder levar. Perdeu a sua mobilidade, perdeu uma parte fulcral de quem ele era. E todo o arco dele após isso, é a tentar voltar a sentir-se ele próprio através deste chamamento místico, onde tenta encontrar o que perdeu. Mesmo sem mobilidade é uma das personagens mais interessantes.

Perdeu a oportunidade de estar numa série de inspiração medieval e entrar em lutas armadas…
AG: Sim, quanto mais uma pessoa sofre, mais interessante é ver como ela lida com isso. É mais interessante ver essa profundidade do que a luta de armas, isto do ponto de vista do ator. A luta é entusiasmante, mas isto é entusiasmante de outra forma.

O Littlefinger é o mestre das estratégias secretas. Como é que, como ator, se prepara uma personagem que não diz o que pensa, mas está sempre um passo à frente dos outros?
AG: Está escrito assim nos livros e na série e isso ajuda. A mim, como ator, assenta que nem uma luva porque não gosto muito de discutir com pormenor as personagens antes de entrar nas cenas. Há quem goste de discutir tudo até ao último detalhe, sobre o que a personagem vai estar a pensar em cada situação, mas eu não tenho interesse nenhum nisso porque nunca surpreende ninguém. Posso falar com o realizador sobre o que estou a pensar fazer, mas numa série destas muito do que eu estou a fazer depende de mim, porque sei onde o Littlefinger está e para onde vai. Há muita confiança nos atores e eu sinto que posso fazer como a personagem, não discutir muito como vou fazer, «guardar as cartas» para mim.

E o facto de não saberem o que se vai passar nas temporadas até ao último minuto, é difícil ou entusiasma?
AG: Eu gosto. Quando sabemos como a história vai acabar temos tendência de ou mostrar demasiado a atuar, ou interpretar em sentido contrário, o que não é bom. Se não soubermos o que se vai passar, mantemo-nos focados nas motivações da personagem naquele momento.

Mas não lhe faltam ideias e estratégias…
AG: Sim, ele tem múltiplos planos que se estendem para o futuro, por isso, tem sempre um plano B. Eu gosto do entusiasmo de não saber o que se vai passar e assenta bem no Littlefinger, porque ele até tem planos meticulosos, mas gosta do perigo e coloca-se imposições em que tudo pode correr mal. Ele tem um frase na quarta temporada onde diz: «As pessoas estão sempre a morrer.» Querendo dizer: esqueçam essa preocupação, vivam a vida da forma que quiserem, porque o perigo está em todo o lado.

Tem estado perto dos Stark nas gravações desde o início, quando eram muito novos. Não foi estranho na última temporada tentar casar com Sansa Stark?
AG: Não é uma história de amor, não é romance. Se é isso que parece ser para ele, na verdade é um jogo de poder. Era definitivamente um romance com a mãe dela, Catelyn. Isso era algo enorme para ele. Significava tudo. E a rejeição e o facto de ela ter morrido mexeu com ele. Mas com a filha não é romance.

E o que quer ele dizer com aquela conversa de se ver no futuro sentado no trono (Iron Trone) com ela ao lado?
AG: Acho que não é literal. Não quero revelar muito da nova temporada, mas apesar de ter dito isso, não é bem isso que significa. E mais não posso dizer.

Como o definiria? Ele é muito ambíguo. Não é bom, não é totalmente mau…
AG: Ele é traiçoeiro, manipulador, mas também consegue ser brincalhão e tem um lado sentimental. É isso que eu tento transmitir. A sua caraterística mais clara é a manipulação, mas este mundo da história é implacável e este é um homem que tenta sobreviver desde sempre. É jogar ou não sobreviver e ele é um jogador. O negócio dele é informação, saber o mais possível sobre todos, os planos, para poder usar isso. É um manipulador exímio e perigoso.

Há uma teoria de fãs, de que o Bran é o «Bran, The Builder», um dos primeiros homens neste mundo e dos primeiros Stark, que construiu o Muro e Winterfell e agora pode estar a controlar tudo, encarnado no jovem Bran Stark atual…
IHW: Não estou convencido com essa teoria. A teoria que eu subscrevo é que o Bran, no futuro, vai estar neste estado predeterminado, um paradoxo, onde o Bran mais velho, como Three-eyed raven [corvo de três olhos, figura com poderes mágicos], entra nos sonhos do Bran mais novo para o guiar para que se torne no Three-eyed raven. Naquela cena da terceira temporada, em que o Bran está quase a matar o corvo, o Jojen [amigo com capacidade vidente] diz-lhe que ele não consegue, porque o corvo é ele. Isso resume já o que se vai passar. Ele tem de seguir este caminho, este destino, para que o mundo seja como tem de ser. E acho que isso seria jogar demasiado com a passagem do tempo e ainda seria mais confuso.

Já passaram por tantos locais de rodagens e cenários reais tão deslumbrantes ao longo dos anos. Houve algum mais desafiante ou entusiasmante?
IHW: No Norte [um dos reinos da série], onde tenho estado, tudo o que é na rua é muito frio [risos]. As minhas cenas até nem são na Islândia, são mais na Irlanda do Norte, mas eles lá fazem o seu melhor para simular a Islândia. Há alturas do ano em que é muito agreste. Mas ao mesmo tempo isso tem uma certa magia. Quando alguém vê uma personagem na série e acha que ela parece estar mesmo com muito frio, é porque ela está mesmo a gelar [risos]. Mas apesar de serem locais frios, são também deslumbrantes. Não sei como eles encontram lugares tão especiais como aqueles. Quando gravei na Torre da Alegria [na sexta temporada, durante uma das visões de Bran que mais revelações trouxe sobre Jon Snow], antes, quando me mostraram fotografias, achei que era pós-produção. Mas quando lá cheguei fiquei deslumbrado: é mesmo uma torre incrível no meio de um ambiente desértico em Espanha [Castelo de Zafra, em Guadalajara]. Eles conseguem encontrar ambientes que servem a série mas que também têm algo especial.
AG: Desde que tenha neve eu gosto. É um bom cenário para a minha personagem. Adoro neve.