Tudo o que pode fazer com a cannabis

Texto de Sara Dias Oliveira

Médicos, cientistas, ativistas, empresários, políticos e investigadores estarão a partir de amanhã na primeira edição da CannaDouro – Feira Internacional de Cânhamo, que, sábado e domingo, ocupa o centro de congressos da Alfândega do Porto.

Os dados estão lançados e a ideia é abordar os usos contemporâneos do cânhamo, ou seja, as suas vertentes recreativa, agroindustrial e medicinal, numa lógica antiproibicionista.

«A CannaDouro é uma mostra de empresas que pretende desmistificar várias questões e mostrar que o setor do cânhamo é muito dinâmico»

Ao todo, 35 empresas nacionais e internacionais – da Holanda, de Espanha, dos Estados Unidos, do Canadá -, que se dedicam ao cultivo industrial do cânhamo e à sua transformação, reúnem-se no mesmo espaço para mostrar o que andam a fazer.

«A CannaDouro é uma mostra de empresas que pretende desmistificar várias questões e mostrar que este setor é muito dinâmico – em Portugal tem um mercado à nossa escala -, que produz riqueza e cria postos de trabalho», adianta João Carvalho, um dos organizadores da iniciativa e que há 10 anos foi um dos porta-vozes da 1.ª Marcha da Marijuana no Porto.

«É importante desmistificar algumas coisas e o governo e as autoridades devem deixar de meter a cabeça na areia e olhar para esta questão com a mesma legitimidade e a mesma abertura que teve em relação às questões do mundo gay», diz.

«O consumo da cannabis é uma realidade transversal a todas as classes socioeconómicas da sociedade portuguesa»

A capacidade inovadora e empreendedora do cânhamo, o potencial ambiental e tecnológico desta matéria-prima natural e renovável, o uso recreativo e consciente, o autocultivo, a sua utilização na medicina, são assuntos em cima da mesa.

Até porque a cannabis está em muito lado: na indústria têxtil, em roupa feita com a planta, na indústria automóvel, na fibra usada em componentes plásticos, na indústria do papel, como uma fonte de obtenção de celulose, na indústria da saúde, em várias terapêuticas.

«O consumo desta planta é uma realidade transversal a todas as classes socioeconómicas da sociedade portuguesa pelo que o uso medicinal é também já uma realidade em Portugal. É cada vez maior o número de portugueses que recorrem ao uso de óleo de CBD, o componente não psicoativo da cannabis. E é cada vez maior o número de empresas com interesse em cultivar e realizar os processos de extração no nosso país, devido às excelentes condições climatéricas e de exposição solar», sublinha a organização.

«O cânhamo pode, de certa maneira, salvar o mundo. Ou não», diz João Carvalho.

«É um assunto sério e que importa desmistificar», defende João Carvalho. No programa estão várias conferências que abordam o futuro do cânhamo na União Europeia, aplicações medicinais, o processo de transformação da planta, e há ainda espaço para propostas partidárias sobre o seu futuro em Portugal.

No sábado, a partir das 15h15, debate-se se existe consumo não problemático, analisa-se a lei sob a perspetiva de técnicos, ativistas e consumidores, e ainda se conversa sobre o futuro político da canábis.

No domingo de manhã, a partir das 11h00, fala-se do processo da semente ao produto final e do cultivo de cânhamo industrial no nosso país. À tarde, pelas 15h00, um médico de família fala sobre pacientes que utilizam cannabis e derivados, e um investigador e um neurologista abordam as aplicações medicinais da cannabis.

«O cânhamo pode, de certa maneira, salvar o mundo. Ou não», diz João Carvalho.