Cancro de pele: esteja atento aos sinais

Notícias Magazine

Texto de Catarina Pires | Fotografia de Shutterstock

Todos os anos, no verão, é espantosa a quantidade de gente que chega à praia à hora recomendada de saída, por volta das 11h00, 12h00, se quisermos esticar um bocadinho. E com crianças pequenas. Bebés de colo até. Não desconhecerão os alertas, porque também todos os anos estes são dados, nem os riscos, que são repetidos até à exaustão.

Confiarão talvez nos toldos ou nos chapéus de sol ou nos protetores solares factor 50. O problema é que a essa hora não há sombra ou protetor que nos valha. A areia e o mar refletem o sol e, mesmo à sombra, os riscos mantêm-se e os protetores solares não criam, de forma nenhuma, uma barreira intransponível para os raios solares, ainda que sejam besuntados, em placas sobre o corpo.

Este tipo de comportamento é comparável ao dos fumadores que, fartinhos de saber que o tabaco faz mal à saúde e é causa principal de cancro do pulmão, ainda assim, continuam a fumar.

Há uma pergunta que a dermatologista Margarida Rafael, do Instituto Português de Oncolologia (IPO), faz sempre, nas muitas sessões de esclarecimento que presta a pais e educadores sobre os cuidados a ter com o sol, e que é a seguinte: «imagina-se a dar um cigarro ao seu filho?» Claro que não. Pois saiba que expôr uma criança às horas de maior calor e em que o sol (e os raios UV) incide como mais força na terra – em Portugal, das 11h00 às 16h00 – é mais ou menos equivalente.

As queimaduras solares – vulgo escaldões – vão deixando mutações no nosso ADN que mais tarde poderão dar origem aos vários tipos de cancro de pele, entre os quais o melanoma, que é o mais maligno, o mais agressivo, porque metastiza mais rapidamente, o mais difícil de tratar, se não for diagnosticado precocemente, e o mais mortal.

Quanto mais branca for a pele, mais claros os olhos, mais claro o cabelo e menor a capacidade de «bronzear», maior é o risco de sofrer um escaldão. Há peles, e isso também é coisa que se observa facilmente nas praias portuguesas, sobretudo entre turistas do norte da europa, que simplesmente não conseguem obter a tonalidade castanha, ficam apenas vermelhas. Esse é o fototipo (em linguagem técnica) I ou II, mais vulnerável na exposição ao sol.

Na esperança de que seja este ano que vai ter mais cuidado, deixamos aqui algumas informações e conselhos, também disponíveis no site do IPO e em folhetos informativos produzidos pelo instituto.

FATORES DE RISCO

  • Pele clara, com pouca tendência para bronzear, que facilmente fica vermelha com o sol; cabelos claros e olhos claros; presença de sardas.
  • História familiar de cancro de pele.
  • História pessoal de cancro de pele.
  • Exposição crónica à radiação solar ou a outra fonte de luz ultravioleta.
  • História de queimaduras solares na infância ou adolescência.
  • Número elevado de nevos melanocíticos ou «sinais» na pele.
  • Presença de nevos melanocíticos atípicos.

AUTO-EXAME E A REGRA ABCDE

O auto-exame de pele pode detectar o aparecimento de novas lesões cutâneas ou a modificação das características das préexistentes. A detecção precoce dos tumores malignos da pele reduz a morbilidade e mortalidade. O conhecimento dos sinais de alarme do cancro de pele pode alertar o doente para procurar o médico, para um tratamento atempado.
Há uma regra muito útil para ter em mente quando faz este auto-exame, a regra ABCDE.

A de Assimetria Se o sinal for assimétrico, deve estar atento.
B de Bordo Bordos irregulares são sinal de alerta
C de Cor Se o sinal apresentar muitas cores, incluindo o castanho, o preto, o cinzento, o vermelho, o esbranquiçado ou o lilás é considerado de risco.
D de Dimensão A partir de cinco milímetros (meio centímetro) é razão para preocupação, sobretudo se estiver a crescer.
E de Evolução É considerado o critério mais importante – a mudança de aspeto e de tamanho deve fazer soar alarmes (apenas válido para a idade adulta porque nas crianças os sinais modificam-se com o crescimento das mesmas).

SINAIS DE ALARME

Há três tipos de cancro de pele: o carcinoma basocelular, o carcinoma espinocelular, menos agressivos e o melanoma, mais agressivo:

Para o carcinoma basocelular e carcinoma espinocelular
Nódulo ou placa de cor rosada de crescimento progressivo; “verruga” de crescimento rápido que sangra facilmente; ferida que surge espontaneamente e não cicatriza com os tratamentos habituais.

Para o melanoma
“Sinal” de cor negra que aparece em pele aparentemente sã, com tendência para crescer gradualmente ou para sangrar espontaneamente ou com pequenos traumatismos; modificação de sinal pré-existente, com aumento do diâmetro e da espessura, alteração da cor, da forma ou dos contornos, sensação de ardor e prurido, ou sangramento fácil.

COMO CONCILIAR OS EFEITOS NOCIVOS DA RADIAÇÃO E O PRAZER (E BENEFÍCIOS) DA EXPOSIÇÃO SOLAR

Proteja a pele

A exposição solar deve ser gradual, para a pele se adaptar à radiação. Evitar a exposição solar nas horas com maior intensidade da radiação UV, ou seja, entre as 12h e as 17h.
Proteger a pele, lábios e olhos.

Procure a sombra

A proteção de pele deve ser feita procurando as áreas de sombra e/ou utilizando vestuário: usar chapéus de aba larga que protejam a face, orelhas e nuca; t-shirts largas e opacas; calças.

Não ir para a praia sem os óculos

Não deve esquecer os óculos de sol.

Use protetor solar

– Utilizar um protetor solar, que é um complemento indispensável, sobretudo para as zonas mais descobertas e sensíveis (face, área do decote, ombros). O índice de proteção solar (IPS) deve ser igual ou superior a 30, sobretudo nos primeiros dias de exposição (e proteger contra UVA E UVB).

Crie uma rotina

O protetor solar não deve ser pretexto para permanecer mais tempo ao sol e o seu uso não deve limitar-se à praia, piscina e montanha. Deve ser usado diariamente, como qualquer creme hidratante, nas áreas mais expostas, nomeadamente na face e dorso das mãos.

Evite excessos

Antes da exposição solar deve evitar aplicar perfumes, ingerir refeições pesadas, tabaco ou bebidas alcoólicas.

Beba água

Beber água (evita a desidratação) e comer frutas e legumes (ricos em antioxidantes, que auxiliam a reparação celular aos danos causados pela radiação) é importante na exposição solar. Evite adormecer ao sol.