E se Bob Marley salvar Angela Merkel?

Notícias Magazine

Não é fácil imaginar Angela Merkel dançar reggae. Ao que se sabe, a chanceler alemã tem na música sinfónica o género de eleição, em Wagner o compositor favorito, e na última cerimónia em que a banda sonora ficou a seu cargo, o G20 em Hamburgo, a orquestra tocou a Nona Sinfonia de Beethoven. Agora, a sua salvação (política) pode passar pela magia caribenha, uma aliança Jamaica.

Foi nas eleições de 2005 que a expressão nasceu, para agora, passados 12 anos, voltar à mesa de negociações. As eleições do passado fim de semana ditaram que, para governar, a CDU de Merkel, de cor negra, pode ter de negociar com o amarelo Partido Liberal e com os Verdes, formando governo e reunindo as cores da bandeira jamaicana. E se as negociações se avizinham longas, a verdade é que não seria a primeira vez que o reggae desembrulhava um nó político. E quem mais além de Bob Marley poderia tê-lo feito?

Das recentes eleições resultou o regresso da extrema-direita ao Parlamento, mas nem por isso o cenário é tão assustador quanto o enfrentado por Marley a 22 de abril de 1978. Nesse dia, em Kingston, do concerto esperava-se que o reggae acabasse com a guerra entre apoiantes do primeiro-ministro, Michael Manley, e o trabalhista Edward Saga.

Como promotores, dois gangsters, cada um apoiante de um partido político, e no ar, além do cheiro da famosa erva dos rastas, a tensão de um país à beira da guerra civil. O próprio Marley carregava, no peito e no braço, as cicatrizes das balas que provavam a tentativa de assassínio que o forçara ao exílio em Londres.

Antes de Marley, ao palco subiu Peter Tosh, segundo na hierarquia reggae mas nem por isso com o discurso adocicado. Primeiro criticou o governo, mas depois, com Legalize It, apelou à legalização da marijuana para unir todas as fações. Embalados os espetadores, apareceu Marley, que, durante Jamming e sem aviso, lançou, perante 32 mil pessoas, o desafio: «Será possível ter no palco Michael Manley e Edward Saga?»

Ambos tinham força para manter uma guerra não declarada nas ruas, mas nenhum arriscou contrariar o apelo da figura mais popular do país, por sinal acabado de lançar Exodus, segundo a Time o álbum do século. Com seguranças por perto, em palco cumprimentaram-se. Marley fechou o concerto com One Love, mas às ruas a paz tardaria a chegar. Na Alemanha, o acordo também não se prevê fácil, mas será mais sereno se for selado ao som de reggae.

CRÍTICA

TARDOU, MAS… VALEU A PENA? AFROBEAT: DO COMPLEXO FAZER SIMPLE
Com direito a palco principal do CCB e a promessa de que seria lançado em breve, o disco foi apresentado há mais de um ano. E quem lá esteve ficou à espera. Ainda assim, quem os ouve sabe que controlam como poucos o espaço entre batidas, que nunca dão sinais de urgência, que todos lançam música com brio. Novamente sem título, chega o quarto disco, bem temperado, sem pressas no balanço e com uma identidade cada vez mais aprimorada. A espera foi longa, mas valeu a pena.

AFROBEAT: DO COMPLEXO FAZER SIMPLES
Com direito a palco principal do CCB e a promessa de que seria lançado em breve, o disco foi apresentado há mais de um ano. E quem lá esteve ficou à espera. Ainda assim, quem os ouve sabe que controlam como poucos o espaço entre batidas, que nunca dão sinais de urgência, que todos lançam música com brio. Novamente sem título, chega o quarto disco, bem temperado, sem pressas no balanço e com uma identidade cada vez mais aprimorada. A espera foi longa, mas valeu a pena. Chegar aos 77 anos no topo da forma não é frequente, mas Tony Allen há muito que é exceção que confirma várias regras. Porque há muito se tornou incontornável na história da música – os anos ao lado de Fela Kuti ajudaram –, porque nunca teve problemas em assumir o papel de convidado – com Damon Albarn ou Charlotte Gainsbourg – mas também porque só agora se estreia na Blue Note. Em The Source, mostra-se de exceção: o jazz não tem de ser inacessível, os ritmos complexos podem soar simples, um pré-octagenário pode mesmo tocar o que os miúdos nem sonham.