Ajoelhar, rezar, levantar os punhos. Há uma longa história de protesto negro no desporto americano

 

Donald Trump nem sabe no que se meteu. Quando no passado fim de semana o presidente norte-americano veio criticar no Twitter um jogador da NFL – a liga de futebol americano do outro lado do Atlântico – por se ter ajoelhado durante o hino, desencadeou uma onda que parece difícil de travar.

Vários jogadores e equipas estão agora a cumprir o mesmíssimo gesto de Colin Kaepernick, o jogador dos San Francisco 49rs, em protesto contra a discriminação racial nos Estados Unidos da América.

Muita gente diz agora, na imprensa e na liga de futebol americano, que Donald Trump está a brincar com o fogo.

Trump sugeriu que um jogador que desrespeitasse o hino deveria ser despedido e a resposta fez-se ouvir de toda a parte. Se Kaepernick queria criar atenção sobre o facto de os Estados Unidos promoverem pouco a diversidade, então é bem capaz de ter ganho o combate.

Jogadores, presidentes de clube e os próprios representantes da Liga apressaram-se a vir a público saudar um joelho que se dobrou sobre o relvado. Outros joelhos se dobraram. E muita gente diz agora, na imprensa e na liga de futebol americano, que Donald Trump está a brincar com o fogo.

Uma longa história de protesto

Nos EUA há uma longa tradição de protestos contra a discriminação racial em terrenos desportivos. A imagem mais icónica talvez seja a dos punhos erguidos de dois atletas no pódio dos Jogos Olímpicos do México, em 1968, após terem arrecadado as medalhas de ouro e bronze na corrida dos 200 metros.

A sua manifestação de apoio ao Black Power custou-lhes caro. Foram imediatamente recambiados para casa e ostracizados do desporto, apesar de serem atletas notáveis. Até Peter Norman, o australiano que aparece no posto de prata, comprometeu a sua carreira: tinha decidido usar um crachá de apoio aos direitos humanos, para se solidarizar com os colegas.

Quando se recusou a combater no Vietname, Muhammad Ali perdeu a licença de boxeur e o título de campeão do mundo. Mas não cedeu.

Mas há inúmeros exemplos de atletas negros em combate pelos seus direitos. Muhammad Ali, pouco depois de se ter sagrado campeão do mundo de pesos-pesados, em 1967, anunciou não querer participar na guerra do Vietname.

A sua licença para combater foi-lhe retirada durante três anos, bem como o título. Ameaçaram-no com cinco anos de prisão (que nunca cumpriu), mas nunca abdicou da objeção de consciência. Anos depois, viajaria para a África do Sul para protestar contra o apartheid.

Nos últimos 20 anos, sobretudo na NBA, os protestos têm ressurgido. Por crenças religiosas, para condenar abusos policiais sobre negros, sempre para falar de direitos e discriminação. Os casos mais marcantes aqui, nesta fotogaleria.