A luz do Salvador

Notícias Magazine

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Quando nos apontam um holofote, tapamos a cara. Subimos as máscaras que nos escondem o verdadeiro rosto e guardamo-nos das agruras emocionais de um mundo sempre pronto a destruir qualquer sinal de singularidade.

Porque quando alguém assume a sua singularidade, parece haver uma quantidade considerável de pessoas que reagem de forma visceral, rejeitando aquela proposta de ser e de estar com muita veemência e até alguma bílis.

A diferença assume-se na forma de questões religiosas, sexuais ou de cor da pele, mas também pode estar na linguagem corporal, a forma como o corpo responde aos estímulos e dialoga com os outros corpos.

Há, ao que parece, uma estandardização dos movimentos aceitáveis quando se realiza uma série de atividades. Falemos de música. Segundo o que percebi, dos comentários que vou lendo internet fora, um artista performativo não pode balançar o seu corpo ao ritmo da música que vai criando se não obedecer a uma coreografia. Ou, se não obedecer a uma coreografia, terá pelo menos de reagir de forma considerada «normal» ou «adequada».

O medo da diferença toma-nos de assalto, colocamos as máscaras da normalidade e contra-atacamos. Porque, parece-nos, aquele ato tão simples de se ser quem é não passa de uma provocação. Ali está alguém que, sob a luz forte dos holofotes, ousa mostrar o verdadeiro rosto. É como se esse ato de liberdade nos viesse provar aquilo de que desconfiávamos: somos cativos da «normalidade». Vamo-nos limando, limitando, até cabermos no molde apertadinho do «socialmente aceitável».

Tememos ser quem somos, porque se formos rejeitados a dor é fulminante. E rejeitamos, pois, quem se atreve a ter a ousada coragem de se expor, tal como é, sem moldes.

Preciosos aqueles que enfrentam os holofotes sem se encandearem, porque irradiam uma luz própria, forte, incandescente, singular. Uma luz que todos nós temos, mas que só alguns se permitem acender.