O amor é um jogo para perder, mas elas estão prontas para jogar de novo

Texto de Catarina Fernandes Martins | Bruno Lisita/Global Imagens

Mariana Santos e Edna Costa são amigas e colegas ilustradoras sintonizadas na forma de pensar, de ver a vida e o trabalho e na quantidade de desgostos amorosos que sofreram nos últimos anos. Pelos dedos contam os nomes de ex-namorados e entre risos e ranger dos dentes não permitem que a outra esqueça nenhum deles.

Sete é o doloroso número a que ambas chegam. «E ainda faltam os amores platónicos» diz Mariana, sem querer dar tréguas à ideia que as uniu para a nova exposição conjunta Love is a Losing Game.

Mariana Santos, 30 anos, é a ilustradora criadora do alter-ego artístico Mariana, a miserável, que se tornou conhecida do público português com a série dos ditados populares traduzidos à letra para inglês.

Hoje o seu nome é sinónimo de ilustrações dolorosas sobre a miserável vida de um trabalhador independente ou sobre tristes histórias de amor. O trabalho de Mariana é seguido no Instagram por mais de 23 mil pessoas.

Edna Santos, 31 anos, criou Maria Imaginário, que começou por pintar gelados nas ruas de Lisboa, mas hoje ocupa galerias de arte em todo o lado. Maria Imaginário já pintou um muro na Palestina e tem exibido na Europa e nos Estados Unidos. Tem mais de sete mil seguidores no Instagram.

Na exposição, há rostos de ex-namorados, meninas que choram, amantes que se tornam estranhos, caminhos separados, corações partidos e amigos que ajudam a colar os cacos.

Quatro anos depois de exporem juntas pela primeira vez, Mariana, a miserável e Maria Imaginário decidiram que o tema dos relacionamentos amorosos fracassados, assunto principal das conversas telefónicas diárias e inspiração de muitas ilustrações, deveria saltar para as paredes do espaço Art Room no Príncipe Real, que a partir de quinta-feira dia 9 e até 21 de novembro vai mostrar as reflexões desta dupla de «incuráveis românticas, lesionadas das emoções e magoadas no coração».

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Na exposição que inaugura esta quinta-feira há rostos de ex-namorados, meninas que choram, amantes que se tornam estranhos, caminhos separados, corações partidos e amigos que ajudam a colar os cacos, corações que estão prontos para jogar de novo o arriscado jogo do amor. As mensagens das ilustrações de Mariana, a miserável e Maria Imaginário são universais, mas a inspiração partiu das histórias de Mariana e Edna.

Uma entrevista com as mulheres por detrás das personagens.

Maria Imaginário e Mariana, a miserável, artistas plásticas.

O amor é mesmo um jogo onde se perde sempre?
Edna:
O amor é lindo. Eles é que… [ri]
Mariana: A culpa é deles normalmente. Apesar de eu geralmente achar que a culpa é minha…

Porque é que as relações mais recentes acabaram?
Mariana: Eu achava que tinha sido por minha causa, até chegar à conclusão de que ele estava a ir numa direção totalmente oposta à minha. Quando não me dão uma razão plausível escavo até encontrar uma razão, acredito que tenho de mudar algo em mim até dar certo. Agora aprendi que há vários fatores que escapam ao nosso controlo e que não podemos controlar. O outro pode acabar uma relação por razões que tem de resolver com ele próprio.
Edna: Eu acabei com as duas últimas relações porque me faziam mal e a certa altura decidi que não queria aquilo para a minha vida. Disse para mim mesma que queria melhor, queria ser feliz, queria estar bem. Continuava a gostar deles, mas sentia-me de coração partido. Para acabares com alguém de quem gostas tens de estar mesmo espezinhada… Acabamos sempre de coração partido. Nunca partimos o coração a ninguém.

Edna: Eu acabei com as duas últimas relações porque me faziam mal. Para acabares com alguém de quem gostas tens de estar mesmo espezinhada… Acabamos sempre de coração partido.

O que se ganha com um coração partido?
Mariana: No início senti que desta vez não tinha ganho nada. Já tinha aprendido a estar sozinha, a ser uma mulher independente. Mas com o tempo acredito que me trouxe mais maturidade.
Edna: Acho que um coração partido é uma aprendizagem valiosa. Quero pintar um quadro com base naquela ideia da cultura japonesa dos vasos partidos colados com cola de ouro que se tornam mais caros do que os originais porque são únicos. Acontece-nos o mesmo no fim de uma relação. Também por isso deixámos um agradecimento aos nossos ex-namorados na sinopse da exposição.

Os ex-namorados reagem ao vosso trabalho?
Mariana:
Faço estes desenhos não como mensagens para eles, mas para mim. Não podemos pensar se vão ou não ficar incomodados. Temos de pensar em nós.
Edna: Quando pintei o rosto do meu último namorado fiquei a pensar, «será que devo?». Mas depois pensei melhor e resolvi não ter medo. Eu tenho o luxo de ter a melhor profissão do mundo, ninguém manda em mim, sou a minha patroa, faço o que quero. Se tiver alguma repercussão por ter pintado o meu ex-namorado vou lidar com isso. Estou a expressar-me e nunca posso limitar isso com base naquilo que os outros pensam.

Que contacto mantêm com eles?
Mariana: Tentei ser amiga, mas isso não funciona. A parte mais difícil para mim é passarmos a ser estranhos um para o outro. Faz-me confusão não ver a pessoa.
Edna: Para me proteger a mim e ao meu coração, acho que é importante manter a lógica do longe da vista, longe do coração. Acho que mesmo à distância pode haver amor e carinho, mas tem de haver distanciamento.

Mariana: Para mim não há meios termos no amor. Quero alguém que me faça esquecer que o risco existe.

Já pensaram em tentar de novo com o mesmo rapaz?
Mariana:
Participei num evento no Porto sobre histórias de mulheres à espera e uma das raparigas presentes falava do mito da Penélope que espera por Ulisses. Isso fez-me confusão porque nunca coloquei se quer essa hipótese. Quando ele acabou comigo disse-lhe que estava a cometer um erro porque nem nos deu uma oportunidade, mas disse-lhe também que não poderia voltar atrás. Ele acabou e avançou com a vida dele e eu fiz por não saber mais nada. Se ele voltar eu já sou outra pessoa e ele já é outra pessoa.
Edna: Sou muito lamechas e emocional, mas quando começo a sofrer atrozmente, o meu cérebro toma o comando. Por mais tentações que eu tivesse, no fundo eu sabia que aquilo não era o melhor para mim.

Já estão prontas para amar de novo?
Edna:
Quem ama mais é mais inteiro. Eu sofri muito de todas as sete vezes, mas já estou pronta para a oitava e para a nona. Não deixei de acreditar no amor, nem acho que os gajos são uma merda. Sou positiva e a Mariana também, apesar de ela achar que não.
Mariana: Eu não sou positiva. Mas acho que somos corajosas.
Edna: Temos colhões.
Mariana: Há muita gente aí a evitar entrar em relações porque não se quer magoar ou porque acham que tem de ser fácil e instantâneo e não é. Esse é o motivo de muitas relações acabarem. Muitas vezes as minhas relações acabam na hora H, no momento em que é necessário transformar a paixão em amor…

De que estão à procura para a próxima vez?
Edna:
Queremos respeito, alguém que nos admire. Um companheiro que cuida de nós e que cresça connosco. Queremos alguém que esteja lá para nós e não fuja ao primeiro momento.
Mariana: Queres alguém que te faça saltar para o abismo novamente e te faça esquecer o que se passou antes, alguém suficientemente bom para te fazer esquecer o quanto sofreste. Desta última vez estava com alguém que me fazia querer investir tudo. Para mim não há meios termos no amor. Quero alguém que me faça esquecer que o risco existe.