A América das armas, a idiota

É a metralhadora mais famosa do mundo, a AK-47, a famosa Kalashnikov, de fabrico russo, desde 1947 que é utilizada nos mais variados conflitos pelo mundo. Tem fama de suportar tudo – da humidade do Vietname ao calor do Médio Oriente –, de ser eficaz a 300 metros de distância e capaz de disparar 600 balas por minuto. É arma de guerra, não de defesa, de caça ou de tiro ao prato, é arma de criminoso.

Por cá, no reino das metralhadoras G3, nem os militares de patrulha as usam carregadas. Nos Estados Unidos, a julgar por uma reportagem no The Guardian em 2015, bastam duas horas para a comprar. Era apenas uma das 23 que o assassino de Las Vegas tinha no quarto de onde matou 59 pessoas e feriu mais de quinhentas.

É-me indiferente o que lhe chamam – assassino em massa, terrorista ou louco. Há atos que não se explicam e sem descer o nível é complicado adjetivar quem é capaz de tal atrocidade. Pior ainda é saber que não foi o primeiro e que não será o último. Como podemos prevê-lo?

Os Estados Unidos já estiveram bem mais perto de apertar a fiscalização ao uso de armas, agora o presidente nem refere o assunto. Na primeira declaração ao país depois do massacre, Donald Trump apelou à paz, à união, considerou o ato como resultado de «maldade pura», mas nunca usou a palavra «arma».

E desta vez nem é crível que a falha tenha sido por falta de vocabulário, mas antes sinal de um país onde a cotação das maiores empresas de armamento valorizou imediatamente em bolsa. Se este foi o tiroteio mais mortífero da história dos Estados Unidos, na segunda-feira bateu-se outro recorde – segundo a CNN Money nunca a Olin, dona das espingardas Winchester, valeu tanto em bolsa.

Dizem: a relação entre norte-americanos e armas é cultural, herança da conquista do território e da guerra civil. Certo parece – por mais que doa, a eles e a nós, que nunca deixamos de nos chocar com as barbaridades que conseguimos fazer uns aos outros – que ninguém é capaz de mudar o atual cenário.

American Idiot, a ópera rock de 2004 com que os Green Day abordaram a América de Bush, continua atual. Tragicamente atual, provavelmente mais atual do que nunca

AMERICAN IDIOT
Green Day
6,78 euros

CRÍTICA

FOO FIGTHERS: INSPIRAÇÃO PROCURA-SE
Com Paul McCartney, Justin Timberlake e Alison Mosshart, a lista de convidados em Concrete and Gold é surpreendente. O nono disco dos Foo Fighters tem duas músicas – Run e The Sky Is a Neighborhood – que prometem ficar por uns anos nas set lists dos concertos, mas a conversa acaba por aqui. Suspeitando-se de que Dave Grohl não sabe fazer mau rock, o disco cumpre os mínimos. Falta inspiração.


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FOO FIGHTERS

Concrete and Gold
11,99 euros

BENJAMIN BOOKER: À ATENÇÃO DE BLACK KEYS, JACK WHITE E COMPANHIA
Se o inferno está cheio de boas intenções, as estantes de discos não estão menos cheias de gente que nunca passou do simpático disco de estreia. Benjamin Booker tinha, em 2014, tudo para ser um desses – ouvia-se blues rock bem intencionado, canções quase memoráveis, riffs quase perfeitos. Witness afasta esse risco. Right on You, Motivation, Witness e Believe mostram Booker pronto para a luta com os grandes. Black Keys, Jack White ou Gary Clark jr. até podem não estar preocupados, mas seguramente que já deram pelo aviso.

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BENJAMIN BOOKER

Witness
14,19 euros