Black Friday: a poupança que vai sair muito cara (a todos)

Texto de Marcelo Teixeira

Já morreram mais pessoas devido à Black Friday do que por causa de ataques de tubarões. Existe um site que faz a contabilidade de mortos e feridos causados pelo dia a seguir ao tradicional Thanksgiving, criado nos Estados Unidos para abrir a época das compras de Natal.

O dia da corrida aos superdescontos, que entretanto foi exportado para o resto do mundo, Portugal incluído, é uma verdadeira dor de cabeça para a polícia norte-americana, que se queixa de não ter mãos a medir com tantas ocorrências.

Por cá, a histeria com as pechinchas (que nem sempre o são) também começa a fazer-se sentir. Mas há contas que pouca gente faz: que custos tem este consumo desenfreado para o ambiente?

De acordo com a GreenPeace, a Black Friday é um dia de «desperdício e nefasto para o ambiente».

As marcas apontam a data como uma «oportunidade excecional», «o sonho ao preço mais baixo», «promoções e descontos imbatíveis». Mas existe o outro lado da moeda. De acordo com a organização não governamental GreenPeace, este é um dia de «desperdício e nefasto para o ambiente».

Nuno Sequeira, da Quercus (Associação Nacional de Conservação da Natureza), disse à Notícias Magazine que «depois das petrolíferas, a indústria têxtil é a que mais polui». O maior volume de negócios, a partir de sexta e até ao Natal, pertence ao setor do vestuário, nomeadamente às multinacionais cujas fábricas estão situadas em territórios com mão-de-obra barata e pouca regulamentação.

Em 2002, esta indústria faturou um trilião de dólares, e em 2015 quase chegou aos dois triliões, indicam estudos apresentados pela GreenPeace. Segundo a mesma, neste espaço de tempo, a produção têxtil duplicou para corresponder aos desejos das pessoas. 60 por cento dos compradores na Black Friday adquirem roupa nova.

Em Hong Kong, por exemplo, são compradas por minuto 1400 t-shirts. Por cada t-shirt produzida são gastos 2.700 litros de água.

Ora, o ambientalista da Quercus adverte que «a água, um recurso esgotável e que tem de ser poupado, é um dos mais afetados pela indústria têxtil». E do site da GreenPeace também chega um alerta: «estamos a consumir roupa a um ritmo insustentável para o planeta».

Em Hong Kong, por exemplo, são compradas por minuto 1400 t-shirts. Por cada t-shirt produzida são gastos 2.700 litros de água. Um total de água que, para um humano que ingere a quantidade diária recomendada, levaria três anos a ser bebida.

«O vestuário é uma necessidade básica», reconhece Nuno Sequeira, mas chama a atenção para o «consumo excessivo e pegada ecológica que este ciclo acarreta. Da fase de fabrico à degradação ficam marcas no ambiente». Pede, por isso, mais «responsabilidade» a cada um de nós.

A causa ambiental foi uma das que motivou a criação, há duas décadas, do Buy Nothing Day [qualquer coisa como Dia Sem Compras] no mesmo dia da Black Friday.

Alguns países já têm políticas de reciclagem de roupa, mas segundo a GreenPeace estão ainda longe de serem eficazes: «só dez por cento é aproveitada». A maior parte acaba por ser incinerada ou empilhada em algum local ao abandono. O ambientalista português aconselha as pessoas a adotarem a prática dos «três R’s: reduzir, reutilizar e reciclar». E enfatiza que «a roupa não pode ser um bem de consumo descartável».

No site www.wateraid.org os números são claros: uma em cada dez pessoas no mundo não tem acesso a água limpa. A cada dois minutos que passam, uma criança é afetada por doenças provocadas pela má qualidade da água ou por falta de condições sanitárias.

A causa ambiental foi uma das que motivou a criação, há duas décadas, do Buy Nothing Day [qualquer coisa como Dia Sem Compras] no mesmo dia da Black Friday. A GreenPeace, por seu lado, apela ao fim da «fast fashion» e do consumo desenfreado, de usar e deitar fora.

A solução para salvar o planeta passa por remendar, poupar e reutilizar. Pode também ser a única forma de ser fashion no futuro.