1965, o ano do yé-yé

Texto Ana Pago | Fotografias Arquivo DN
Fala-se nos Beatles e toda a gente imagina John Lennon, Paul McCartney, Ringo Starr e George Harrison a eletrizar o mundo. Havia homens aos berros a imitar os seus ídolos. Miúdas a chorar e a arrepelar os cabelos, apaixonadas por algum dos músicos de Liverpool (ou os quatro). Multidões e multidões de fãs em êxtase sempre que a banda atuava, agarrada às guitarras elétricas.

A juventude estrangeira era rebelde e a portuguesa não lhe ficava atrás, agarrando-se àquela postura libertária para sentir que o progresso entrava mesmo contra a vontade do regime salazarista, que insistia na guerra para manter o império.

Curiosamente, foi graças à ditadura e ao seu Movimento Nacional Feminino a favor das forças armadas portuguesas – na altura a carecer de dinheiro em missões no Ultramar – que o Concurso Yé-Yé se realizou no Teatro Monumental, em Lisboa. Entre 1965 e 1966, o público ficava a conhecer o que de melhor se fazia no género também no país.

«O yé-yé viveu ontem à tarde horas de inusitada euforia e, como era de prever, uma verdadeira onda de jovens acorreu ali para aplaudir freneticamente os intérpretes da música da sua eleições – a “beatlemania”, que tanto brado tem dado, e continua a dar, pelo mundo fora», escrevia o DN de 29 de agosto.

Tocaram Os Átomos, Os Dakotas, os The Magic Strings, Os Martinis (respetivamente de Lisboa, Almada, Oeiras e Elvas) e rapazes e raparigas traziam «os cabelos em desalinho e o coração a bater descompassadamente, as gargantas roucas de tanto se manifestarem».

Na plateia, um fã «esgrouviado parecia ramagem açoitada por vento ciclónico» e foi dos primeiros a sair do lugar na hora de invadir o palco – o qual ameaçou ruir «com uma dança de twist altamente espasmódica». Yeah, yeah, aplaudiram todos no final.