1942: Um táxi movido a lenha

Texto de Ana Pago | Fotografia de Arquivo DN

Bastou um dia a conduzir por Lisboa, em busca de fregueses pelo Conde de Redondo, Avenida da Liberdade, Restauradores, Rossio, para chaffeurs e populares concluírem que sim: aquele Peugeot 402 de dez cavalos e menos de dois litros de cilindrada, apetrechado com um gasogénio de fabrico nacional, funcionava às mil maravilhas.

Era o primeiro táxi a circular na capital com equipamento próprio para produzir gás de síntese a partir de madeira ou carvão, capaz de alimentar motores de combustão interna, numa altura em que a Segunda Guerra Mundial tornava a gasolina um bem racionado. De facto, o carro andou em serviço toda a tarde por vários bairros, subindo e arrancando bem, atingindo por vezes velocidades pouco habituais em veículos impulsionados por gasogénios», relatava o DN de 26 de novembro, encantado com os «excelentes resultados» da estreia, na véspera.

Em sessenta segundos, a fornalha estava acesa e o táxi pronto a abalar. «Esta solução com gasogénios de arranque rápido seria, talvez, a providência dos motoristas e do público, a quem tanta falta estão fazendo esses cómodos e económicos meios de transporte.»

Desabituados de verem táxis nas ruas, os clientes (raros) suspiravam por energias alternativas à gasolina em falta. O abastecimento melhorou um pouco em 1943, contudo as restrições só foram progressivamente levantadas em 1946 e 47, depois da guerra. Enquanto isso, era o chamado «gás pobre» produzido pelos gasogénios que mantinha os veículos a andar como Ferraris, entre nuvens de fumo e chispas ao acelerar, dando um novo sentido ao epíteto de «fogareiros».

CLIENTE
«O primeiro freguês era estrangeiro [o jornalista do DN não especifica de onde], ia para casa e só à chegada notou que fora conduzido a gasogénio.»