10 problemas que todos os casais enfrentam (e de que não falam)

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Texto NM | Fotografias Shutterstock

COMUNICAÇÃO

Podem ser as migalhas que o outro deixa na cama a comer bolachas, o hábito de nunca limpar os pés no tapete quando sai do banho, as chávenas de café sujas empilhadas na bancada. É um facto: estamos sempre à espera que o outro descubra sozinho o que nos deixa os nervos em franja, decifrando o que sentimos a cada momento, e essa é das proezas mais difíceis em qualquer relação, por muito que se ame e conheça o parceiro. «Em pleno século XXI ainda há quem tenha medo de dizer ao companheiro o que sente, o que resulta nas mais variadas patologias, entre elas a depressão», alerta Margarida Vieitez, especialista em aconselhamento conjugal. Não há nada como a velha receita de sentar e conversar, olhos nos olhos.

DISCUSSÕES DESLEAIS

Os ânimos estão inflamados, um fala alto, o outro eleva ainda mais o tom, e às tantas estão ambos aos gritos a despejar o que lhes vai na alma. Não é bonito, quem já passou por isso pode atestá-lo. Mas pior é entrar numa espiral de descontrolo, deixar problemas por resolver e, na discussão seguinte, usá-los como arma de remesso quando não vêm ao caso, só para ferir o outro. Um conselho de Margarida Vieitez é esperar que a tempestade passe e voltarem à questão mais tarde, com calma. «Uma boa relação implica compreensão, aceitação e capacidade de perdoar.»

DINHEIRO

A história do amor e uma cabana é muito romântica, mas na prática terão de gerir uma casa, um orçamento familiar e definir muito bem quem faz o quê, quando e onde. Vão manter contas separadas, uma conjunta ou ambas? Um paga o condomínio e o outro a luz? E em relação às compras e demais despesas correntes? «A gestão de dinheiro é um foco de conflito habitual em muitos casais, já que carregarmos preconceitos de infância em relação ao tema que dificultam a vida a dois», explica Catarina Rivero, psicóloga e terapeuta familiar. A melhor forma de prevenir? «Conversarem para saber o que o outro pensa e sente acerca do assunto», diz. E saber respeitar.

RESSENTIMENTOS

A convivência tem destas coisas: aquilo que ao início nos parecia adorável no parceiro – o sarcasmo certeiro contra tudo e todos, dormir com cuecas da avó, colecionar pacotes de açúcar – tende a bulir-nos com os nervos quando chegamos do trabalho cansados e ainda temos o jantar para fazer, uma máquina de roupa para lavar e bastantes fúrias para dirigir contra quem nos está próximo. E é justamente aqui que interessa lembrar que essas idiossincrasias fazem parte da pessoa que amamos e por quem nos apaixonámos (ninguém é perfeito), além de que não estamos na relação para mudar o parceiro nem para que o parceiro nos mude. Aceitá-lo evita fazer-nos sentir frustrados, defraudados e até ressentidos com o outro.

RESPEITO

É um pilar incontornável de qualquer relação: podemos zangar-nos, enervar-nos, barafustar, mas nada nos deita mais abaixo como aquele momento de descontrolo em que perdemos o respeito pelo outro. «É natural haver dificuldades, a adaptação é uma constante nas relações. O que não é normal é sentir que não há espaço para serem vocês mesmos e dizerem o que pensam, discussões repetidas e sem sentido, cansaço, desgaste emocional na presença do outro, críticas, desvalorização e culpabilização constantes», alerta Margarida Vieitez.

CONFIANÇA

A quem é que ele manda tantas mensagens? Quem é aquele amigo do trabalho que lhe deu boleia? E aquele tipo que comenta todas as fotos dela no Facebook? Mais uma vez, é natural haver dúvidas de vez em quando: quem ama receia perder. No entanto, há que saber alimentar o espaço conjugal sem perder os amigos ou as metas pessoais, segundo Catarina Rivero. E sobretudo sem trair a confiança do parceiro, acreditando que ele não vai trair a sua. «A satisfação individual, em que cada um se responsabiliza por fazer o seu percurso, irá contribuir também para a satisfação do casal», explica a terapeuta familiar. Por mais medos que tenham, nunca, em circunstância alguma, se anulem para fazer o outro feliz.

ACUSAÇÕES

Ela acusa-o de não fazer nada em casa e andar estourada (sem que ele alguma vez admita que ela tem razão). Ele acusa-a de andar distante e não ser atenciosa como antes («Ele que faça a parte dele e logo terei mais disposição», pensa ela). Por mais culpas que cada um tenha no cartório – e numa relação ambos os lados as têm –, é bastante mais fácil apontar o dedo àquilo que nos desagrada no outro do que perceber que também nós somos humanos e esticamos a corda de diversas maneiras. Nenhum dos dois é uma vítima inocente na relação, pelo que não tem o direito de responsabilizar o cônjuge pela sua própria infelicidade.

INTIMIDADE

Não a sexual, de que falaremos mais à frente, mas aquele à-vontade que faz com que os dois possam estar no sofá em silêncio, confortáveis na presença do outro, sem se tornarem apenas companheiros de casa. «Às vezes, quando me procuram, as relações já estão tão deterioradas que pouco ou nada há a fazer», lamenta a psicóloga e coacher sexual Cristina Mira Santos. A boa notícia é que existem formas de contornar o cansaço dos dias. «Reaprender a sintonizar-se consigo mesmo é meio caminho para querer entregar-se ao parceiro», adianta a especialista. Isso e guardar sempre algum tempo na agenda para largar os filhos, os afazeres, e expressar o amor que os une. «Dá trabalho, claro, como tudo o que é importante. Mas vale bem a pena.»

PACIÊNCIA

Viver juntos é partilhar o dia-a-dia ao pormenor, razão por que o nível de compromisso tem tudo a ganhar com uma reflexão e construção partilhada pelo casal. «Hoje em dia há cada vez mais um impulso para a satisfação imediata de prazeres e menos para esperar que as relações amadureçam, o que pode ser contraproducente», sublinha a psicóloga Catarina Rivero, considerando essencial haver um projeto em comum, que atenda aos sonhos, desejos e interesses das duas partes envolvidas. «Só com muita paciência se cria um equilíbrio que permite gerir as características menos apreciadas, as relações com as famílias de origem, os amigos, o dinheiro e tudo o resto», diz.

SEXO

No início perdemo-nos com gosto na geografia do outro, mas a rotina instala-se e já nem forças temos para uma rapidinha, quanto mais para inventar novas formas de prazer. «As relações são como as plantas: se forem mal nutridas, acabam mirradas», avisa a psicóloga e coacher sexual Cristina Mira Santos. O desejo funciona muito bem em relações recentes e nos filmes, depois disso há que treiná-lo para não nos deixar com uma sensação de abandono que prejudica a dinâmica do casal. «Às vezes, um bom abraço já opera milagres», sugere. Ou então experimentem gastar três minutos a olharem-se nos olhos, como quando se conheceram, para verem o que acontece a seguir.